PM aborda participantes de encontro do PSOL , em São Paulo - Divulgação
PM aborda participantes de encontro do PSOL , em São PauloDivulgação
Por Chico Alves

Na escalada de agressões que as próprias autoridades públicas cometem contra a legislação brasileira, mais uma foi registrada neste sábado, em São Paulo: policiais militares entraram na plenária de mulheres realizada pelo PSOL e passaram a pedir documentos para as presentes. Perguntados sobre o motivo de fazerem tal coisa, responderam que estavam "monitorando os presentes". Em seguida, foram embora dizendo que voltariam no fim do dia.

"Isso não é inédito em reuniões em São Paulo, já houve em movimentos de juventude, movimentos sociais. Mas é a primeira vez que acontece com um partido político, que é totalmente amparado por garantias constitucionais", afirmou à coluna o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros. "É muito grave, estamos avaliando com o departamento jurídico quais medidas tomar".

Vivemos uma época em que é preciso repetir princípios óbvios (e a frequência com que essa frase tem sido usada, por si só, já revela o grau de distorção em que estamos mergulhados). Pois aí vão mais algumas obviedades: a polícia deve seguir a lei e não há na legislação nenhum artigo que preveja o "monitoramento" de ações de partidos políticos ou que oriente a identificação de militantes partidários sem que tenham sido acusados de algo. Resumindo: a PM não pode "monitorar" alguém ou alguma instituição só porque seus integrantes acordaram com vontade de fazer isso. Não se trata apenas de autoritarismo, mas de abuso de autoridade, que é crime.

Foi o que aconteceu hoje na plenária de mulheres do PSOL, um partido legalizado, que tem registro, representações municipais estaduais e federais, não é nenhuma facção clandestina. Por essa ação arbitrária, o governador João Doria deve uma explicação à população. Espera-se que tenha acontecido à sua revelia e que ele tome as providências para que não se repita.

No mundo louco das redes sociais, certamente haverá quem apoie a ação policial simplesmente por não concordar com as ideias defendidas pelo PSOL. Talvez seja bom alertar que as arbitrariedades praticadas pela instituição que detém a força podem, em algum momento, se voltar contra eles ou contra quem apoiam. Mas não deveria ser necessário argumentar dizendo que "amanhã a vítima pode ser você". Em um momento mais civilizado, bastaria dizer que, no Estado de Direito, os primeiros que têm a obrigação de cumprir as leis são os agentes públicos, inclusive a PM. Quando isso não acontece, a democracia vai para o brejo.