Segundo o cronista João do Rio, a Rua da Passagem, em Botafogo, foi o cenário da primeira batida de automóvel no Brasil.  - Reprodução Internet
Segundo o cronista João do Rio, a Rua da Passagem, em Botafogo, foi o cenário da primeira batida de automóvel no Brasil. Reprodução Internet
Por Thiago Gomide
Alguém já pediu seu carro emprestado e deu aquela porrada?

E você? Já bateu o carro dos outros?

Conhece algum barbeiro?

Então você está no texto certo.

Olha só o que rolou: o poeta Olavo Bilac era muito amigo do jornalista abolicionista José do Patrocínio.

Zé tinha um automóvel importado da França. Relíquia. Todo mundo parava para admirar. Eram poucos no Brasil. Parecia coisa de outro mundo.

Aproveitando da amizade, Bilac mandou aquela clássica, do tipo “deixa eu dar uma voltinha”. “Só uma voltinha, por favor”.

Conheço muitos que recusariam. Carro é coisa sagrada.

Mas José do Patrocínio deixou. Ficou no banco do passageiro, que na época seguia o estilo inglês. Ou seja, invertido.

Olavo se ajeitou no possante. José do Patrocínio deu as diretrizes básicas. “Aqui acelera, ali freia, esse é o volante...”.

Quer ver fotos desses personagens e saber mais detalhes? Fiz um vídeo sobre esse fato estranho. Clica aqui.

Zé do Patrocínio teve um amargo arrependimento.

Correndo a 3, no máximo 4 km/h, o poeta começou bem. Vento no cabelo. No bigode. Pessoas aplaudindo. Sensação de liberdade.

Mas isso durou pouco tempo. Bilac não conseguiu controlar a direção.

“Freia. Freia. Freia”, deve ter dito um desesperado José do Patrocínio. Não havia, lembre-se, a alça perto da cabeça do passageiro que ajuda a remediar os momentos de tensão.

Olavo freou coisíssima nenhuma. Foi com tudo para cima de uma árvore.

Estava feita a primeira batida famosa da nossa história. Pior: famosa e com o carro emprestado.

João do Rio, um dos principais cronistas da nossa história, escreveu que foi na rua da Passagem, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Tem que diga que foi na Tijuca, zona norte da cidade.

O ano desse feito não costuma ser consenso entre historiadores. Tem quem diga que foi 1901. Tem quem diga 1903.

Bilac, dizem as más línguas, tinha um certo orgulho do feito. Tornou-se, como dizem na arte, performance. " em

José do Patrocínio ficou magoado. Foi perda total. O carro, evidente, foi para o ferro velho.

Ah, não tinha seguro não.