Baile da (Re)Volta da Gafieira: galera se acabando no salão - Moisés Zylberberg
Baile da (Re)Volta da Gafieira: galera se acabando no salãoMoisés Zylberberg
Por Thiago Gomide
Pra começo de conversa, como todo mundo sabe, gafieira vem de gafe. Certo?

Uhmmm, não.

O que rolou foi o seguinte: o jornalista Romeu Arêde era famoso por escrever sobre carnaval, sobre música, sobre danças.

Certo dia, depois de tomar uma manguaça daquelas, resolveu ir ao “club Elite”, na Frei Caneca, um dos redutos mais importantes de gafieira desde a década de 1930.

O estado do rapaz estava complicado. Não dava. Foi barrado no baile. “Como assim? Tá me barrando?” Aqui não, meu caro.

Teria volta. E a volta veio em tom de diminuir. Usou a escrita como arma. Fez de um baile animado, com pessoas dançando, uma gafe.

O nome pegou. A imagem pegou.

“Nas décadas de 1930 e 1940, até aproximadamente a metade de 1950 foi encontrada uma série de matérias em jornais como Diário da Noite, Correio da Manhã, O Globo, A Batalha, Jornal do Brasil, Gazeta de Notícias e A Manhã em que são traçadas representações pejorativas das sociedades recreativas e dos clubes, chamados de gafieira, localizados principalmente nos subúrbios cariocas. Ao se reportarem à gafieira, as matérias sugerem que o nome gafieira foi uma maneira de se considerar as sociedades recreativas “mal frequentadas” (referem-se com termos como “mulheres de vida fácil”, “desordeiros” e “malandros”) e vinculadas à criminalidade”, escreveu a pesquisadora Daniela Spielmann em sua tese de doutorado na UniRio.

Enfrentando barreiras e preconceitos, os bailes de gafieira foram sobrevivendo e avançando. Com o passar do tempo, a ideia popular sobre os clubes e a dança mudou.

Vamos ao que está acontecendo hoje em dia e que me chamou atenção.

Com a palavra o jornalista e produtor cultural Moisés Zylberberg, um dos criadores de um baile que está atraindo os olhares e o pés dos dançarinos amadores e profissionais – e pra quem gosta de música:

“Criamos a (Re)Volta da Gafieira para promover o encontro da excelente música de improviso com as performances dos dançarinos de salão e com um público que gosta dessa música. A gafieira é um lugar que abraça a todos ritmos e pessoas. Esperamos que esse movimento seja uma retomada da tradição do alto astral carioca”.

A (Re)volta da Gafieira rola hoje, quinta-feira, às 20hs, na rua do Teatro, 37, Centro.

No repertório, clássicos como “Sem compromisso”, de Geraldo Pereira, “Piston de Gafeira”, Billy Blanco, e estreando “A história de Lily Braun”, de Chico Buarque.

A Orquestra Gafieirando é formada por Daniela Spielmann, Silvério Pontes, Alexandre Romanazzi, Domingos Teixeira, Rodrigo Villa, Xande Figueiredo e Alana Moraes.

Saiba os detalhes clicando aqui

A coluna deseja sorte ao pessoal e vamos dançar.

*

Adolpho Bloch e a gafieira

O criador da TV Manchete era um apaixonado por gafieira.

Nascido na Ucrânia, Bloch se divertia no próprio “Club Elite”.

Fazia questão de incentivar reportagens e novelas que versassem sobre o tema.

*

Quer voltar ao tempo?

É só escutar a música “Baile no Elite”, do João Nogueira.

Sente só o comecinho:

“Fui a um baile no Elite, atendendo a um convite
Do Manoel Garçom (Meu Deus do Céu, que baile bom!)
Que coisa bacana, já do Campo de Santana
Ouvir o velho e bom som: trombone, sax e pistom.
O traje era esporte que o calor estava forte
Mas eu fui de jaquetão, para causar boa impressão
Naquele tempo era o requinte o linho S-120
E eu não gostava de blusão (É uma questão de opinião!)
Passei pela portaria, subi a velha escadaria
E penetrei no salão.
Quando dei de cara com a Orquestra Tabajara
E o popular Jamelão, cantando só samba-canção.

(...)”

*

Saiba mais sobre gafieira

A tese da Daniela Spielmann está aqui. A leitura é uma delícia.

http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/handle/unirio/10938

Dançarino nato e trauma eterno

Só repeti uma vez na vida. Em dança de salão.

Não teve como. O professor, super badalado, sentenciou com carinho: “você é um dos meus grandes desafios”.