Joyce Ribeiro - Márcio Del Nero/ Divulgação
Joyce RibeiroMárcio Del Nero/ Divulgação
Por O Dia
Joyce Ribeiro é uma mulher danada mesmo. A jornalista é pioneira em todo lugar que passa. Atualmente à frente da primeira edição do Jornal da Cultura, ela percorreu um longo caminho para chegar onde está. É a primeira (e única) jornalista negra a estar numa bancada de noticiário diário, em rede nacional. Além disso, foi também a primeira a mediar um debate entre presidenciáveis, nas eleições de 2018. Porta-voz de notícias, hoje, Joyce virou a entrevistada e contou sobre carreira e vida pessoal para a coluna. Confira!

Você passou pela edição noturna do Jornal da Cultura e pelo SBT. Como é passar por perfis tão diferentes de jornal?
Foram todas experiências enriquecedoras e passar por vários estilos nos tiram da zona de conforto, porque cada segmento tem um público. Gostei muito do fazer um jornal de debate, como é o Jornal da Cultura. Confesso que o Jornal da Cultura primeira edição tem sido um desafio enorme... Eu ainda não tinha falado para este público. O jornal é uma delícia porque tem espaço para entrevistas, notícias, cultura...

Tem ressentimento do SBT por sua saída da emissora?
Nenhum! A vida é feita de ciclos e todos têm começo, meio e fim. Nos 12 anos que estive lá, me sentia em uma grande família. Claro que na hora você tem um baque, sente falta, saudade, não vou negar... Mas posso te afirmar com toda convicção, Fábia: Deus só me tira de algo para me colocar em uma vivência melhor...

Você foi a primeira e única jornalista negra a mediar um debate presidencial, como você vê essa responsabilidade?
Com muita honra, não tem como ser diferente! Quando recebi o convite da TV Aparecida para mediar foi a realização de uma meta que tinha me colocado para aquele ano. Sou muito grata com este momento da minha carreira e todos os outros que me trouxeram até aqui, e sempre destaco a importância fundamental de outras mulheres negras, fortes e competentes que vieram antes de mim, Glória Maria, Zileide Silva, Dulcineia Novaes e que abriram caminho para eu poder estar aqui.

Acha que ainda existe muito preconceito na TV e no jornalismo?
Sim... claro que há o preconceito ainda, não é fácil quebrar uma padronização que está na nossa TV há 69 anos, fora o fato de ser uma padronização que veio de fora, ou seja, um ideal que não se assemelha em nada com a diversidade do Brasil. Estamos dando pequenos passos? Estamos. Deveriam ser maiores? Deveriam. Mas também devemos ser positivos e ver que mudanças estão acontecendo, longe do ritmo que deveriam acontecer, mas estão, é fato! A caminhada é longa e a luta diária.

Como é para você o fato das emissoras estarem dando espaço para pessoas que não são formadas em jornalismo em noticiários?
Vou defender sempre o estudo e o conhecimento. A passagem pelo banco da universidade é uma experiência de vida incrível, não só para as áreas que escolhemos, mas para a vida. Todos devemos lutar por esta oportunidade. Devemos valorizar a dedicação e os anos de esforço que precisamos nos habilitar em cada área.

Tem algo que ainda não tenha feito e tenha vontade?
Fábia, sou inquieta. Você nunca vai me ver parada. Fiquei um ano fora da TV e durante este tempo escrevi dois livros, o 'Chica da Silva - A História de Uma Vida' e o 'Deixar Enrolar- A História dos Cachos no Brasil' e tenho um canal de entrevistas no YouTube que vai ao ar por temporada. Diria que experimentar o entretenimento seria um passo a ser pensado com carinho.

Como foi sua infância? Se imaginava onde está hoje?
Tive uma infância feliz e tranquila. Eu sou a mais velha de três irmãos sendo a única menina. Tive boas oportunidades, pude me dedicar totalmente aos estudos antes de trabalhar. Sabia que eu queria estar ali na bancada, mesmo sendo algo raro de se ver, mas o que eu sentia é que as pessoas não botavam fé nisso. Pensaram que eu ia pendurar o meu diploma na parede, mas fui à luta. A minha grande sorte é que nunca me guiei pelo que as pessoas achavam ou queriam, nunca fiquei parada esperando as coisas caírem do céu. Resiliência é a minha palavra.

Sempre quis ser apresentadora de telejornal?
Sempre quis! Desde o começo queria trabalhar na TV e depois fui me identificando cada vez mais. Chegava correndo da escola só para assistir ao jornal da hora do almoço. Já fui para faculdade sabendo o que queria fazer, tinha convicção que tinha nascido para aquilo.

Quem é a Joyce Ribeiro na intimidade?
Fora jornalismo? Sou motorista, babá, cozinheira, doméstica, monitora de atividades infantis, enfim, mulher, sabe? (risos). Brincadeiras à parte, hoje tenho duas filhas, a Malu de 6 anos e a Lorena de 3 anos que são frutos do meu casamento com o Luciano. Estamos juntos há 18 anos e temos uma vida bem comum. Sou muito presente na criação das minhas filhas, faço questão, mesmo que isso me obrigue a fazer malabarismos. Nesse momento, sou uma mulher que está realizada como profissional e na parte familiar. Será que conto do terceiro turno e falo que ainda faço muitas palestras e mestres de cerimônias ou o povo vai achar que sou workholic? (risos)

Como prepara as filhas para o futuro? Tem medo de que elas sofram preconceitos como você viveu?
Claro que tenho, como já aconteceu, mas eu e o pai delas sentamos e explicamos o que estava acontecendo, não tapamos o sol com a peneira. Trabalhamos muito a autoestima e a segurança delas. Aqui em casa elas estão aptas para escolherem o que quiserem ser. Só há duas regras: não podem desrespeitar ninguém e também não podem mentir.

Li que você foi atacada nas redes sociais por perfis racistas, que atitudes tomou? Acha que as redes sociais possibilitam covardes terem voz? Como acabar com isso?
Só podemos acabar com isso criando leis efetivas que punam essas pessoas e que tirem delas a sensação de que a internet é terra sem lei, que todo mundo pode fazer o que quiser. Tomei todas as medidas possíveis, que começa fazendo boletim de ocorrência na delegacia, não podemos deixar passar. Racismo é crime e deve ser punido, porque, a partir do momento que deixamos esses covardes impunes, eles ganham força e acham que podem continuar a fazer isso mais e mais vezes. Combater a ignorância é fundamental.

Você é referência para muitas meninas que estão vindo aí, o que diria a elas?
Toda dia quando eu acordo eu digo o meu mantra "Não é meu gênero, cor ou credo que me trouxeram até aqui e sim meu talento" porque ao dizer isso lembro que não posso me limitar ou nem me deixar abalar.