Franklin David  - RONALDO GUTIERREZ
Franklin David RONALDO GUTIERREZ
Por O Dia
O nosso entrevistado de hoje está passando por seu terceiro luto em três anos. Na última quinta-feira, Franklin David, apresentador do 'Tricotando', da RedeTV!, perdeu a mãe, dona Dilva David. Mesmo abalado pela morte, ele apresentou o programa e, emocionado, dedicou a guerreira que por três anos enfrentou um câncer na faringe: "Fiz isso porque foi ela quem realmente me ensinou a ser forte. Devia isso a ela que sempre me incentivou". Ele também abre o coração e conta a cobrança que vem junto à beleza, puxadas de tapete que já sofreu durante sua carreira e a forte depressão que teve por alguns anos e que o fez chegar a pensar em tirar a própria vida, mas que graças a um conselho da atriz Deborah Secco, conseguiu virar o jogo. Senhoras e senhores: Franklin David!
Você sempre foi muito vaidoso ou é algo que surgiu depois que você foi pra TV?
Sempre gostei de me cuidar. Claro que tem uma porcentagem de vaidade, mas sou muito focado em saúde. Adoro esportes, me cuido, tomo vitaminas, estou sempre fazendo acompanhamento. As pessoas talvez foquem só na vaidade porque também gosto muito de moda, gosto de pesquisar, de me vestir bem. Criei um estilo próprio, evito ficar só focado em 'modinha'.
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Qual a maior dificuldade de estar ao vivo na casa das pessoas de todo o Brasil diariamente?
Posso te falar, não sinto dificuldade! Eu gosto de poder falar com as pessoas. Saber que estou levando entretenimento. As redes sociais são muito boas porque trazem o retorno imediato do que está acontecendo. Enquanto estou no ar, vou acompanhando o que as pessoas estão achando do programa.
Você se inspirou em alguém para ser o apresentador que é hoje? Quem?
Não diria inspirar, mas eu pesquiso muito, assisto muita coisa da TV brasileira, da TV americana e inglesa. Dentro da minha verdade, descobri coisas que funcionavam para mim. Não quero fazer uma TV para machucar ou deixar as pessoas constrangidas. Gosto de ser leve e do bem, quero poder acrescentar na vida das pessoas, mesmo que sejam momentos de descontração e risadas que um programa como o 'Tricotando' traz.
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O que te tira do sério?
Mentira e falta de caráter. Me conte a pior verdade, mas não me venha com a melhor mentira. Sou muito paz e amor, mas se eu perceber que estou sendo feito de bobo, esquece, já era! Gente com falta de caráter é capaz de tudo, para o bem como para o mal e esse tipo de pessoas eu mantenho afastada de mim e da minha família.
A beleza ajuda ou atrapalha?
Depende de como você a usa. Se ela se torna seu único argumento para fazer tudo, ela atrapalha, porque beleza sem talento, sem dedicação, sem estudo, não vale de nada. Agora, se ela é um complemento de empenho, de correr atrás, de se especializar no que você faz, não, ela não atrapalha. Eu sempre soube que seria cobrado em dobro porque a pessoa que é considerada bonita, recebe sempre o estigma de que não tem talento, ou que tudo o que conseguiu foi só pelo rosto. Eu já tomei muita chuva, levei muito 'não' e aguentei muito grito para chegar até aqui e a beleza não impediu nada disso. Sabe por quê? Porque sempre me impus para ser tratado de forma profissional. Comigo não tem teste do sofá!
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Dizem que a TV é um meio muito competitivo. Você já levou puxada de tapete de alguém?
Opa! Tá com tempo aí? (risos). Logo que comecei na TV falavam que eu estava no programa porque eu era filho de um diretor, que não merecia estar lá só por privilégio. Só que tem um problema: meu pai não é e nem nunca foi diretor de TV. Foi por pura maldade, para tentar me derrubar, espalhar uma história e as pessoas fazerem mal juízo.
Pensa em fazer coisas diferentes na TV? O que?
Penso sim, minha cabeça vive a mil. Antes da pandemia acontecer, eu estava viajando para vários lugares nos finais de semana e nas minhas férias para juntar materiais de viagens. Quero muito fazer um programa de turismo, mostrar o quanto esse mundo é bonito, o quanto temos que valorizar. Também estou me informando sobre o mundo dos podcast. Antes de entrar em qualquer coisa, eu estudo muito, fico a par dos prós e dos contras, porque mergulho de cabeça. Eu gosto de trabalhar!
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Como chegou à TV?
Como te falei, eu estipulo metas e tenho tempo de vida com as coisas, porque sempre quero ir um degrau acima. Eu modelava e estava me preparando para fazer um mochilão pelo mundo modelando, mas já tinha na cabeça que meu próximo passo seria a TV. Foi quando soube do 'TV Fama', aí fui na cara e na coragem levar meu material. Se desse certo, maravilha, largava tudo e iria me dedicar, mas se não desse já estava certo com minha viagem de trabalho. Já sabemos qual foi o caminho, né? Larguei tudo e na raça fui para rua fazer os mais diversos tipos de pauta. O 'TV Fama' foi uma escola para mim.
Você já foi repórter do 'TV Fama'. Quem passa mais perrengue? Repórter ou apresentador?
Com certeza o repórter, principalmente quem faz porta de evento. Além de estar suscetível às instabilidades do clima, você também está suscetível ao humor dos famosos. Já tive que lidar com pessoas que estavam no evento pagas e de mal humor, não queriam atender a imprensa. Oi? Mas aí eu dava meu jeito, quebrava as pernas da pessoa sendo extremamente educado, fofo, fazendo a pessoa se sentir mal pelo jeito grosseiro que tratava. Claro que tiveram pessoas maravilhosas, algumas que viraram até amigos, que podia estar chovendo, acabando o mundo que paravam para dar entrevista. As marcas escolhem para fazer esses eventos pessoas que estão na crista da onda, mas nem sempre essas pessoas estão preparadas para fazer sucesso. Humildade e educação tem que ser as primeiras coisas a se aprender. Foi bom porque aprendi tudo o que não quero ser.
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Você passou por um grande choque com a morte da sua avó. Me fala um pouco como foi para você?
Sim. A minha avó era avó e mãe ao mesmo tempo. Enquanto minha mãe ia trabalhar, ela cuidava de mim. E trouxe minha mãe para tratar o câncer há três anos em São Paulo. Com isso, minha avó veio junto, porque minha mãe era quem cuidava dela e então eu e minha irmã passamos a cuidar. O fato é que com três meses aqui em São Paulo minha avó faleceu vítima de uma pneumonia, exatamente um ano após o falecimento do meu pai/avô, marido da minha avó e que também me criou. Eu não tive meu pai biológico presente, então minha vida sempre foi com a família da minha mãe. E perdê-los num curto intervalo de tempo, mais a pressão psicológica na vida profissional na época, foi o fundo do poço. Estou fazendo essa desabafo porque a pessoa já não faz mais parte do quadro de funcionários da emissora. Resumindo: a minha vida parecia não ter mais sentido. Estava perdendo as pessoas que amava e trabalhando com uma pessoa que tornava meu trabalho, que amo, um martírio.
Você teve um quadro de depressão muito forte. Como foi passar por tudo isso? Você está bem agora?
Fui ao fundo do poço. Com tudo isso que vivi eu acabei cuidando de todo mundo, menos de mim. Quando me dei conta já estava tomado de angústia, tristeza, pensei em não seguir adiante e interromper minha própria vida. E não tenho vergonha de dizer isso, porque sei que posso ajudar outras pessoas mostrando que dei a volta por cima. O primeiro passo é você reconhecer que não está bem, o segundo é pedir ajuda. Eu infelizmente só me dei conta disso após uma crise de pânico. Ou era buscar a ajuda de um psiquiatra ou eu não estaria mais aqui pra fazer esse relato. Passei a tomar remédios, fazer terapia e buscar fazer coisas que me causassem bem-estar. Os remédios me fizeram mal, porque me tirava completamente do meu estado normal: ficava grogue, apático, fazia com que eu não me sentisse angustiado, triste, mas também não me deixava sentir mais nada. Então abri mão dos remédios e me agarrei na terapia, na prática de esportes, meditação. A minha fé com tudo isso ficou abalada também, então eu questionava a existência de Deus. E ninguém consegue viver sem fé, mesmo que seja pra não acreditar em nada, você precisa acreditar em algo. Então busquei ajuda no centro espírita, me identifiquei. E diante das perdas, eu precisava de algo que desse sentido à elas, foi lá que eu encontrei. E a Deborah Secco, durante uma entrevista em que a questionava sobre os altos e baixos de sua vida, me disse uma frase que eu nunca mais esqueci, que foi a seguinte: "As vezes a gente precisa ir no fundo do poço para descobrir que lá tem uma mola que impulsiona a gente pra cima". Tenho certeza que ela não faz ideia disso, mas sem querer ela me ajudou muito naquele momento. Hoje estou bem e vejo que a dor, por pior que ela seja, nos torna mais fortes.
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A sua mãe e sua família também estavam numa luta muito grande já tem alguns meses. Me conta um pouco disso?
Na verdade essa luta já vinha há três anos, que foi quando descobrimos que a minha mãe estava com câncer. Foi exatamente um mês após o falecimento do meu pai/avô, em abril de 2017. Em maio de 2018 faleceu minha avó e em meio a tudo isso minha mãe enfrentava com muita garra todas as sessões de quimioterapia e radioterapia. É um processo muito doloroso para quem está com a doença e para quem está em volta. O câncer da minha mãe foi na faringe e aos poucos privou minha mãe de comer, de beber e até de dormir, porque com o crescimento do tumor as dores aumentavam cada vez mais e nem a medicação conseguia segurar. Eu tenho muita sorte de ter uma irmã como a minha, que foi quem ficou com a minha mãe enquanto eu trabalhava. Sofremos e não foi pouco. A minha mãe faleceu na última quinta-feira. Estava à caminho da emissora quando recebi a notícia. É aquele baque onde o chão realmente se abre. Só que como já vinha fazendo, eu priorizava a vontade da minha mãe, então foi quando me perguntei o que ela queria que eu fizesse naquele momento... Foi aí que decidi ir pra emissora apresentar o programa em homenagem a ela. Quis chorar em alguns momentos, mas fui forte do jeito que ela me ensinou, segurei a onda pra que ela realmente tivesse orgulho de onde ela estivesse. A minha direção ficou preocupada, a Lígia (Mendes) também, mas me deram todo o apoio nessa decisão. No fim eu dediquei o programa a ela e aí realmente não tinha como segurar as lágrimas. Penso que agora a minha mãe descansou de todo sofrimento e que vou viver pra realizar o desejo dela, que era o de me ver feliz.
Como você vê a pandemia e tudo que está acontecendo?
Tem sido bem complicado, mas tento me espiritualizar e não surtar. Com a internação da minha mãe em outra cidade e o fato de não poder ir para lá, por segurança dela, eu confesso que fiquei um pouco sem chão, mas canalizei tudo no trabalho. Foi algo que me deu um norte. Mesmo num momento pessoal tão triste, saber que posso entrar na casa das pessoas e tornar o dia mais leve, mesmo que por uma hora, faz valer à pena todo esforço.
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