Erika Januza - Divulgação/ Vinicius Mochizuki
Erika JanuzaDivulgação/ Vinicius Mochizuki
Por O Dia
É COM MUITA HONRA que a coluna recebe Érika Januza como entrevistada deste domingo. Numa conversa emocionante, a atriz fala sobre racismo, beleza e preconceito. Quando o assunto é sua personagem em 'Amor de Mãe', Érika diz: "A emissora tomou a decisão certa e de forma rápida. Espero que a gente possa retomar logo esse trabalho, para vocês saberem o que nossa autora Manuela Dias reserva para a Marina".
Erika, a primeira pergunta é sobre um tema muito atual, que é o racismo. O que você está achando de todo esse movimento mundial?
É um misto de sentimentos. Um de tristeza, por ver que é preciso perdermos vidas nesse processo. A conscientização poderia vir sem mortes. Por outro lado, ver que tantas pessoas estão lutando, não estão se calando... Isso preenche o coração de uma forma muito potente. Acabou o tempo em que negros tinham que abaixar suas cabeças, o tempo em que estávamos aqui para servir... Não existe mais isso. Exigimos respeito! Exigimos igualdade. Quem diz que o racismo não existe é porque nunca foi olhado de forma torta dentro de uma loja ou nunca sofreu uma ofensa pela cor da sua pele. Racismo existe. E ele é covarde e cruel.
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Você deve ter tido episódio de racismo, mas teve algum que mais te deixou para baixo? Poderia contar como foi?
Sim, eu já tive vários. E nos dias de hoje, por fazer televisão, ele é mais sútil, mas ainda existe. E o racismo se apresenta de tantas formas em nossas vidas... De formas agressivas, como um xingamento ou comentário mais pesado, ou numa atitude. Já tive namorado, por exemplo, que dizia me amar, mas só ficava comigo dentro de casa. Eu não servia para andar na rua de mãos dadas com ele. Pois é... Triste, mas eu já passei por isso. Hoje, mais madura e consciente, nunca aceitaria algo assim. Já ouvi que nunca estaria em capa de revista porque negro não vende. Essa para mim foi bem marcante. Oi? Negro não vende? Já fui xingada no trânsito, de forma pejorativa quando viram que era uma negra no volante. Olha, posso falar casos e mais casos. O racismo é uma realidade no Brasil e ele nos fere e nos mata diariamente.
Você venceu vários concursos de beleza e um deles você sofreu um ataque racista. Pensou em desistir ali de tudo?
Claro, tem dias que você cansa... Tem dias que abaixamos a nossa guarda e, infelizmente, o outro nos atinge. Por isso é tão importante estimular a autoestima desde criança. Incentivar a beleza negra desde os primeiros anos, para que essas meninas e meninos cresçam cientes do seu valor, de quem eles são. Já pensei em desistir, mas foi em fração de segundos, sabe? Porque o meu movimento natural é pegar isso que jogam para me derrubar e transformar em força para continuar. Toda vez que eu escuto: "Ah, mas isso não vai ser possível" ou "Ah, isso não é para você"... É aí que eu vou com toda força para mostrar o contrário. Eu sei que não é fácil, você não cria essa força de um dia para o outro... Levei anos e anos para ser quem eu sou hoje. Mas é possível! Nós somos resistência. E não vão nos parar!
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Muitos atores negros reclamam da falta de papeis de destaque, de falta de representatividade nos papeis centrais de uma produção. O que acha disso?
Não tenho muito o que achar sobre isso, é apenas uma questão de olhar e constatar, porque é real! Ainda somos uma minoria! Eu tive muita sorte nos meus trabalhos, porque pude fazer papéis que mostravam o negro em outro lugar. Fiz uma juíza (em 'O Outro Lado do Paraíso'), que me deu muito orgulho, porque nós, negros, somos juízes, médicos, professores, doutores... Fico feliz de ver essa evolução já na tela. Nada contra interpretar uma empregada doméstica, porque é um trabalho honroso como qualquer outro, mas não dá para ver o negro sempre sendo representado nesse local. Ou como o bandido da história. Faltam mocinhas e mocinhos negros. Conta na sua mão as mocinhas/protagonistas negras no horário nobre... Você consegue usar todos os dedos da sua mão? Acho que isso já responde a sua pergunta!
O Brasil tem medidas eficazes de combate o racismo?
Não, não temos. E isso está ficando cada vez mais claro nos últimos tempos. O que nós temos, agora, é um coletivo, uma união de negros e negras ecoando suas vozes. E somos muitos. E fazemos barulho, graças a Deus. E que a gente possa continuar fazendo mais e mais barulho porque, enquanto vidas negras morrem todos os dias pelo preconceito, pelo racismo, não nos calaremos. Quem fala que não existe racismo no Brasil, é porque não é negro.
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Que personagem você gostaria de fazer um remake? E por que?
Nunca tinha pensado sobre isso! Mesmo! Mas pensando agora... Amaria fazer as gêmeas Ruth e Raquel, de 'Mulheres de Areia', por exemplo. Mocinha e vilã ao mesmo tempo de uma história, com todas as possibilidades de nuance.
Quais foram maiores dificuldades no início de sua carreira?
Eu sempre tive contrato por obra, então, cada trabalho é uma luta. As pessoas tem a falsa impressão de que você está na televisão e logo pensam que é rica. Nada disso! Preciso trabalhar, porque, caso contrário, não tenho como pagar as minhas contas. Como boa parte dos brasileiros. Sonho ter a minha casa própria e estou batalhando para isso. A maior dificuldade foi deixar Minas Gerais e começar uma vida nova aqui no Rio. E sem ter a segurança de como seria o dia de amanhã. Hoje eu tenho uma vida mais estabilizada e sou muito grata. Tenho muita fé e rezo todos os dias. Mas já tive momentos de não ter um centavo aqui. De precisar da ajuda dos outros para conseguir permanecer no Rio e seguir na profissão.
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'Suburbia' foi seu primeiro papel e logo como protagonista. O que lembra dessa época? O que te marcou?
Tudo em 'Suburbia' foi marcante. Fui fazer um teste para modelo sem saber que era para ser protagonista de uma história da Globo. Foi assim que cheguei no teste de 'Suburbia'. E fui passando pelas fases. Quando me falaram que o papel era meu, eu mal acreditei. Acho que só fui acreditar mesmo quando já estava gravando há alguns dias, porque é quase uma história de ficção. Eu era secretária de uma escola, fui fazer teste para ser modelo, mas era para ser protagonista de TV. E passei. E minha vida mudou. Foi tudo muito intenso e marcante.
Qual das suas personagens tem mais a ver com você e a mais distante?
Tenho um pouco da força da Raquel (de 'Outro Lado do Paraíso') e também da Marina, que é a minha personagem em 'Amor de Mãe', que é muito real, que tem um sonho profissional e vai atrás. Acho que a mais diferente seria a Julia de 'Sol Nascente', pelo contexto dela. Ela era uma caiçara, então, tinha toda a p
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A beleza atrapalha ou ajuda?
Olha, no meu caso, acho que não vivo tanto essa questão. Recebo elogios sobre ser bonita, mas sou uma mulher negra, que já foi preterida muitas vezes. Como eu disse, a mocinha da história, quais são negras? Infelizmente não vivemos ainda numa sociedade de igualdade, numa sociedade onde uma mulher é bonita apenas. O que ainda existe é: "Nossa, que mulher negra linda". Enquanto for assim... O dia em que todas, independentemente da cor, forem "mulheres lindas", talvez, essa seja uma questão para eu pensar.
Você é muito discreta na vida pessoal. Evita exposição e não assume relacionamentos. Tem algum motivo especial?
Não é uma questão de esconder ou não. A verdade é que eu sou discreta mesmo, ainda mais quando estou conhecendo alguém. Às vezes, pode vingar. Pode não vingar. E não quero expor algo que eu nem sei o que vai ser. Todas as vezes que estive namorando sério, firme, nunca deixei de falar ou sair com a pessoa em lugares com fotógrafo. Mas não exponho nas redes. Não é muito o meu perfil, apenas isso. Tem tanto da minha privada que eu já divido, que não vejo motivo para colocar mais essa parte nas telas.
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Você é muito religiosa? Teve alguma experiência mística?
Sim, eu sou! Tenho muita fé mesmo! Sou católica. É algo que minha mãe passou para mim! Rezo todos os dias, agradeço por cada conquista... Não seria ninguém sem a minha fé. Acho que não é uma questão de experiência mística, mas de acreditar que existe algo além de nós. Às vezes, rezo pedindo um caminho ou um esclarecimento e ele aparece para mim. Eu sou muito grata a Deus.
O que aconteceu entre você e a Grande Rio?
Tenho muito respeito pela escola. Eu sou aquela apaixonada pelo Carnaval e todo mundo sabe. Amo mesmo! Tivemos um contato, mas, infelizmente, as coisas não se ajustaram. E tudo bem! Eu nem ia participar do Carnaval esse ano, mas surgiu o convite do Salgueiro em cima do laço, com um samba-enredo lindo e foi irrecusável o convite. Eu até desmarquei uma viagem que faria.
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Como a Marina de 'Amor de Mãe' vai voltar?
Eu ainda não sei como será esse retorno, mas... Eu estou muito feliz com esse trabalho. É uma história forte, com mulheres fortes e fico orgulhosa de fazer parte. Fomos surpreendidos por essa pandemia, por esse cenário tão triste e nossa história foi paralisada. A emissora tomou a decisão certa e de forma rápida. Espero que a gente possa retomar logo esse trabalho, para vocês saberem o que nossa autora Manuela Dias reserva para a Marina.
O que você faz ou gostaria de fazer que maioria das pessoas não imaginam?
Pensando aqui (risos). Tenho uma vida tão normal... Mesmo. E faço tudo o que eu quero. Não sou privada de fazer alguma coisa por causa da fama. Agora, no momento, assim como todos, estou privada da liberdade de andar e sair, seguindo o isolamento, tomando todos os cuidados necessários, como é recomendado.
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Está solteira?
Descobrirão depois do isolamento social!
 
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