Thammy Miranda e Bento -  @lidilopez/Divulgação
Thammy Miranda e Bento @lidilopez/Divulgação
Por O Dia
Não é de hoje que ele luta pelo que quer e desde que decidiu seguir seu coração e assumir sua verdadeira identidade, Thammy Miranda tem enfrentando ataques e julgamentos de todos os lados. Homem com H maiúsculo, recentemente viu seu papel de pai questionado após ser contratado pela gigante dos cosméticos Natura para fazer parte do grupo que representaria a marca no dia dos pais. Nesta entrevista de coração aberto, ele conta pelo que tem passado junto com a mulher Andressa e o filho Bento, como vê o futuro e também se acredita ou não que as marcas abriram as portas para a diversidade. Essa colunista que acredita que pai é mais do que o conceito que a sociedade criou, aproveita para desejar um feliz dia dos pais a todos os pais. Sejam eles asiáticos, pretos, brancos, trans, bi, hetero, homo, alto ou baixo. Porque o importante é o amor e a dedicação a seus filhos.
Como está sendo a experiência de ser pai de primeira viagem?
A maior novidade é o amor que eu estou sentindo. É uma sensação única. Eu sou o filho mais velho e sempre ajudei a cuidar dos meus irmãos. Trocar fraldas, dar banho e dar comida são tarefas que eu tiro de letra.
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Você e a Andressa pensam em ter mais filhos?
Andressa pensa mais do que eu em ter mais filhos. Eu estou bem só com o Bento e eu acho que é uma responsabilidade muito grande... Eu não sei... Por enquanto, eu estou bem com o Bento. Apesar de achar que ter irmãos é muito bom.
O seu pai foi um exemplo para o tipo de pai que você é hoje?
O meu pai foi e é um p*t@ pai! Com certeza, eu tenho ele como referência porque é um cara íntegro, honesto e bom-caráter. Ele tem bom coração, é preocupado com o próximo, atencioso, amoroso e é o meu exemplo.
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Ainda te assusta ou surpreende as pessoas se acharem no direito de opinar sobre suas escolhas? Qual é o limite aceitável, se é que existe?
O que me assusta é a forma como elas opinam. Isso sim, me assusta porque o ser humano ainda é muito pobre de espírito. Ainda vamos ter que viver e passar por muitas catástrofes e pandemias, infelizmente, para ver se o ser humano evolui.
A Natura te chamou para fazer a campanha de 'Dia dos Pais', dando um claro sinal de aliada à diversidade. Esse movimento é pontual e isolado ou você acredita que as marcas entenderam a importância dessa postura?
Acho que nem a Natura nem eu imaginávamos a repercussão que deu tudo isso e creio que tenha sido bem surpreendente para nós dois. Nós até imaginamos que fossem comentar, mas não como foi. Acredito que as marcas entendem assim a importância da postura, porém muitas ainda tem medo desse alvoroço todo. Mas, se elas tiverem peito para segurar essa onda e transformar isso em uma coisa cotidiana, nós vamos romper uma barreira gigantesca.
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O Brasil ainda é um país preconceituoso? Acha que é por falta de informação?
Com certeza o Brasil ainda é um país bem preconceituoso e, sim, por falta de educação. As pessoas não querem educar o ser humano. Eles querem que seja um gado para eles irem tocando no sentido que eles vão. A educação para mim é a principal questão. A educação que vem lá de baixo, que vem das crianças e que você transforma em adultos conscientes, inteligentes e seguros de si. Infelizmente, a política não quer isso.
Você citou em uma entrevista que dentro da Câmara de São Paulo, mesmo sendo um homem foi chamado de "vereadora" por outros políticos. Nossa política ainda contribui muito para a proliferação do preconceito na população? Acha que faltam medidas eficazes por parte dos políticos brasileiros para haver uma real diminuição dos casos de preconceito, racismo e transfobia?
Não é a política que contribui para a proliferação do preconceito. São os políticos. A política é a gente que faz e é por isso que eu acho que precisamos trocar essas pessoas que não evoluíram com o tempo, não buscaram se atualizar e até ter um olhar mais carinhoso com o próximo.
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Escrevendo essa entrevista para você notei algo no mínimo constrangedor e que prova que o preconceito está onde você menos espera: meu corretor do Word, que é um pacote oficial comprado da Microsoft, não identifica a palavra "transfobia". Pede para alterar para "transfugia". Testei em outras máquinas e tive a mesma sugestão. Indo na contramão de empresas que dão visibilidade à causa, acredita que algumas falam e se engajam por "obrigação"? Para se mostrarem alinhadas com a pauta da diversidade? Acha que esse tipo de postura comprova que ainda falta um engajamento real?
Com certeza a falta de medidas eficazes faz com que ainda haja muito preconceito, racismo e transfobia. É por isso que é o meu ponto, é a minha questão que eu priorizo na minha campanha: dar voz para essas pessoas que se sentem excluídas e não só a LGBTQIA+. Todos. Todas as pessoas que se sentem excluídas como mães solos, mulheres que sofrem violências domésticas, filhos que se sentem abandonados, gordos que se sentem fora da sociedade, deficientes físicos e mentais... Todos esses serão representados por mim. Acho que algumas marcas se engajam por 'obrigação', surfam na onda. A onda que está no momento, eles vão lá e surfam. Infelizmente. Como eu já falei antes, eles tem medo porque ao mesmo tempo que você luta contra o preconceito, você também tem que bater de frente com um monte de pessoas querendo 'cancelar' a sua marca. E aí, eles medem até onde compensa essa briga de serem isentos ou enfrentar tudo isso e passar por um trabalhão.
Você pensa em se candidatar? Se sim, qual será sua plataforma política?
Já sou pré-candidato a vereador de São Paulo e a minha plataforma é dar voz aos excluídos, às pessoas que não se sentem aceitas e passam por todos os tipos de preconceitos e violência.
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E novelas, pensa em voltar a fazer?
Por enquanto não penso em fazer novelas. Eu quero mesmo é focar na política e agora mais do que nunca me dá mais gás ainda de entrar na política para fazer a diferença. Para que a gente consiga, através da educação, evoluir as pessoas.
De acordo com o último Censo Escolar, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ - e divulgado em 2013, 5,5 milhões de crianças brasileiras não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Como é ver um número desses e ver que pessoas ainda tentam te atacar por ser um pai amoroso e presente na criação do seu filho?
Sabe o que acontece? A gente está falando sobre representatividade e se eu sou um pai que não te representa, existem outros que vão te representar. Vou te dar um exemplo: para a campanha da Natura não fui só eu quem foi contratado. Foi o Fogaça, foi o Babu, enfim... vários outros. Se eu não te represento, o Babu te representa ou o Fogaça te representa. Mas existe um nicho que eu represento e qual é o problema de existir essa representatividade? O que está em questão não é o dia do pinto (risos). Não é o seu órgão genital que está em questão e sim a representatividade de ser um pai e isso eu sou para o meu filho.
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Tem receio do Bento sofrer preconceitos no futuro? Vou mais longe... Já sentiu algum tipo de tratamento diferenciado com ele pelo fato de você ser um homem trans?
Quando a gente decidiu ter um filho, a gente sabia tudo que iria passar e decidimos passar juntos. Eu sei que ele vai sofrer preconceito lá na frente e eu espero que, quando ele tiver discernimento para se defender e falar sobre isso, o nosso mundo esteja um pouquinho melhor e eu vou estar lutando arduamente para isso. Mas, com certeza o Bento vai saber lidar com essa situação porque ele vai ter a família dele do lado dele, vai ter o apoio necessário. Ele não veio à toa nesse mundo. Ele veio fazer parte da nossa família. Com certeza, ele é um ser evoluído.
Você e a Andressa iriam para o 'Power Couple'?
A gente iria com certeza e as pessoas iriam ficar abismadas com o tipo da nossa relação. Nós temos uma relação muito sadia, seguro e gostosa. Nós íamos fazer sucesso no 'Power Couple'.
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Bento nasceu em janeiro, pouco tempo antes da pandemia. Como tem sido a rotina de vocês em meio à pandemia?
Ter que ficar trancado dentro de casa para nós foi maravilhoso. Estamos vivendo cada momento do Bento, estamos acompanhando cada momento dele e tem sido muito bom.
As redes sociais se tornaram um lugar para disseminação do discurso de ódio, já que muita gente acha que é terra sem lei, mesmo não sendo. Acha que empresas como Twitter, Instagram e Facebook agem de forma eficaz para que esse tipo de postura não seja propagada ou ainda alimentam a ideia e impunidade?
Sim, as pessoas acham que a rede social é uma terra sem lei e, de fato, acaba sendo porque a pessoa acaba se escondendo atrás de um tela de computador ou de uma tela do celular e aí fica gigante, cresce e expõe todo o seu ódio. Na verdade, diz respeito ao que a pessoa tem dentro dela e ela seria má na rua também. Ela só faria com mais discrição. Gente ruim vai existir em tudo quanto é lugar! A única questão é que na internet eles ganham mais força por estarem escondidas e não precisa ficar cara a cara com alguém. Esse tipo de gente é gente covarde e sempre vai ter.
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Qual é a emoção de passar o primeiro dia dos pais com o Bento?
Vai ser legal demais passar esse primeiro dia dos pais com ele. Bento ainda é muito pequeno e nem entende direito o que está acontecendo, mas só a sensação de ter o Bento do meu lado é maravilhoso.
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