Equipe do BrBio tem 50 pessoas, incluindo mergulhadores. Na foto, um deles recolhe porção de coral-sol  - Edson Faria Júnior
Equipe do BrBio tem 50 pessoas, incluindo mergulhadores. Na foto, um deles recolhe porção de coral-sol Edson Faria Júnior
Por Felipe Rebouças*
Rio - O fundo do oceano sofre com a proliferação de um invasor de alta reprodutividade: o coral-sol. O grave problema de ordem ambiental afeta também 5% da economia mundial - R$ 1 trilhão por ano -, segundo estimativa do Ministério do Meio Ambiente. A rápida reprodução desse animal marinho causa a morte de outras espécies, interferindo na cadeia alimentar. Pode resultar em menor oferta de peixes e afetar o turismo. No Rio, esse fenômeno ocorre principalmente na Costa Verde. Para minimizar o problema, foi criada a primeira plataforma colaborativa no Brasil para rastrear esse inquilino indesejado.
O Projeto Coral-Sol, do Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio), criou o software Bioinvasão Brasil, acessível pelo endereço www.bioinvasaobrasil.org.br. Qualquer cidadão engajado no tema pode colaborar com informações sobre locais onde existam esses invasores.
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Até o momento, há 380 pontos monitorados nos litorais do Rio e São Paulo. Desses, 315 na costa fluminense. São 153 em Ilha Grande, dos quais 103 (67%) estão contaminados pela presença do coral-sol. É o que indica um estudo da coordenadora do projeto e professora da Uerj em Biologia Marinha, Beatriz Fleury.
"O fato de a plataforma receber contribuições externas permitirá um maior envolvimento da sociedade no combate às espécies invasoras marinhas, alertando para a importância da conservação marinha. Isso tem tudo a ver com o propósito do BrBio de fazer a ponte entre os pesquisadores e a sociedade em geral", destaca a pesquisadora Simone Oigman-Pszczol, diretora-executiva do BrBio.
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Classificado pela ONU no relatório Global Biodiversity Outlook como animal de maior impacto negativo na biodiversidade local, o coral-sol tem duas espécies em atividade no Brasil: a Tubastraea coccinea, que veio do arquipélago de Fiji, na Oceania, e a Tubastraea tagusensis, originária da Ilha de Galápagos (América do Sul), um dos locais com maior incidência de animais exóticos invasores.
Existem diversos fatores que contribuem para que o coral-sol seja tão perigoso para a biodiversidade local. No Oceano Pacífico, seu habitat natural, a espécie possui centenas de concorrentes do gênero que disputam espaço e alimento, enquanto a costa brasileira possui apenas 18. Aqui, o invasor não possui predadores.
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Diretamente do Pacífico
Trazida nos cascos de navios petroleiros vindos do Oceano Pacífico na década de 1980, a espécie de animais invasores se instalou primeiramente nas plataformas de petróleo e de gás da Bacia de Campos e, em seguida, nos costões rochosos de Ilha Grande, no Estado do Rio de Janeiro.
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No decorrer das últimas décadas, esse tipo de coral, que não possui predador natural, se alastrou por outros estados do litoral brasileiro. Hoje, eles ameaçam a biodiversidade e, consequentemente, turismo e pesca locais.
"Se chega outra (espécie) que se reproduz mais rapidamente, a espécie nativa, mais lenta, acaba diminuindo a longo prazo", explica Kátia Capel, pesquisadora da UFRJ. Além do coral-sol, há registro de outras espécies invasoras e nocivas à biodiversidade nativa, inclusive em terra firme. Animais como javali, caramujo-gigante-africano e capim-annoni, por exemplo, agem de forma semelhante.
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*Estagiário sob supervisão de Antero Gomes