Elza Soares - Reprodução
Elza SoaresReprodução
Por Juliana Pimenta

Rio - Presença confirmada no Palco Sunset do Rock in Rio, Elza Soares se prepara para divulgar, em setembro, o seu novo álbum: 'Planeta Fome'. O lançamento acontece pouco mais de um ano depois de a cantora liberar o premiado álbum 'Deus é Mulher'. Apesar da excelente repercussão dos últimos trabalhos, a diva carioca diz que não pensa em premiações quando começa um novo projeto. "Eu não penso em prêmios, penso em fazer aquilo que acredito, o resto é consequência. Se eu ficar pensando o que vai dar certo, não sigo em frente, vou caminhando sem olhar para trás, acreditar já é um motivo para me movimentar", destaca.

Para a cantora, seu passado humilde serve de base para que ela não se perca diante de tanto reconhecimento. "Eu não fico pensando em sucesso. Penso que tenho que todos os dias abrir a janela da vida e fazer o que tenho de fazer: lutar, trabalhar e sonhar. Ainda me vejo como aquela menina de Água Santa. Eu morava na comunidade e tinha o sonho de cantar e viver como cantora profissional. Hoje, quando me dizem que sou isso, sou aquilo, é estranho, porque sou uma operária da música que luta todos os dias para sobreviver no mundo".

Público jovem

Os novos álbuns e o discurso politizado de Elza têm sido os maiores atrativos para conquistar um público cada vez mais jovem. "Sabe que eu me espanto? Tem crianças e adolescentes que vão nos meus shows, e eu não consigo entender como isso acontece. Adolescentes que dizem que ouvem meus discos, que me acompanham nas redes sociais. Eu não sei como eles conseguem alcançar o que digo na minha música. Recebo vídeos de adolescentes, fico feliz e isso me dá esperança de um mundo melhor", diz.

Nem as parcerias com nomes queridos pela garotada, como Pitty, Baiana System, Liniker e Emicida, revelam para Elza como ela conquistou esses novos fãs, mas a cantora arrisca um palpite. "Acho que é o coração, quando toca o coração, não precisa passar pelo entendimento", acredita. Mas aproveita para deixar um conselho que daria para ela mesma aos 15 anos de idade: "não olhe para trás, siga em frente, confie em você!".

Feminismo

Outro tema em comum entre Elza e os jovens é a pauta do feminismo. A cantora, que sofreu com um passado de abusos e maus tratos, é considerada um ícone da luta pelo direito das mulheres. "Eu já nasci feminista. E não é de hoje a minha luta pelas mulheres. Eu sempre gritei e levantei essa bandeira".

A música 'Maria de Vila Matilde', do álbum 'A Mulher do Fim do Mundo', lançado em 2015, já é considerada um clássico da cantora, que entoa versos pelo fim da violência contra a mulher. "Cadê meu celular?/Eu vou ligar pro 180/Vou entregar teu nome/E explicar meu endereço/Aqui você não entra mais/Eu digo que não te conheço/Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim".

Para Elza, o grande passo para alcançar a igualdade de gênero é através da sororidade, a união entre as mulheres. "Acho importante todos os dias gritar para acordar as mulheres que estão dormindo. Meu sonho é um dia todas as mulheres se juntarem e uma apoiar a outra na luta. Mulher não tem que ser competitiva com a outra, a mulher tem que ser solidária com a outra. O dia que as mulheres entenderem isso, tudo vai mudar. Eu acredito nas mulheres e isso me dá esperança para lutar até o fim", defende.

Apesar de reconhecer que a forma como a mulher é vista melhorou nos últimos anos, a cantora afirma que o cenário ainda não é o ideal. "Nós avançamos, mas não ganhamos o jogo, temos muito o que conquistar e temos que combater o machismo todos os dias. Mas não podemos sucumbir, não podemos ocupar lugar de vítimas. Somos fortes, temos como mudar e quebrar as regras. Por isso, afirmo que Deus é Mulher, porque se fosse homem, já teria desistido de nós", diz.

 

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