Gloria Pires - Paulo Belote / TV Globo
Gloria PiresPaulo Belote / TV Globo
Por Leonardo Rocha

Rio - Não há prioridade maior na vida de Gloria Pires do que sua família. Assumidamente 'mãezona', a atriz é do tipo que não mede esforços para ver a felicidade dos filhos, mesmo que para isso tenha que abdicar de si mesma em determinadas situações. E coincidentemente, ou não, validando o ditado 'a vida imita a arte' — 'e a arte imita a vida' —, a estrela foi escalada para sentir as dores e as delícias de ser Dona Lola, uma das mães mais dedicadas da da teledramaturgia, no remake de 'Éramos Seis', próxima novela das 18h, que estreia dia 30 de setembro, na Globo. "Temos em comum o que toda mãe tem. Não existem arroubos, nem grandes atos heroicos. Apenas os pequenos atos de amor de todo dia", reflete.

Na trama de época, baseada no livro homônimo de Maria José Dupré, Lola é uma mulher batalhadora que aprende o ofício de costureira para dar um realce na renda familiar. É que ela e o marido, Júlio (Antonio Calloni), assumem um consórcio imobiliário, mas não conseguem arcar com os juros altíssimos dos bancos, ficando à beira de perder o imóvel. Uma realidade muito comum na vida dos brasileiros.

Quem vê Gloria Pires muito bem-sucedida na profissão nem imagina que ela também teve seus dias de dureza. "Eu sou filha de ator (Antônio Carlos Pires, morto em 2005). Antigamente, sequer podíamos assinar carteira, era como comerciário ou como prostituta. Então, eu e minha família tivemos uma vida muito difícil. Difícil mesmo. Mas sempre com o olhar pra metade da garrafa cheia. Essa maneira de ver a vida com positividade, com fé... Suar a camisa e ir em busca do objetivo", lembra.

Lola é mulher forte, que, ao lado do marido, Julio, batalha pela família - Globo / Raquel Cunha

Além do lado mãe dedicada, a força e a garra de Lola são características da personagem que se assemelham às de Gloria. "Eu me identifico nela. Com todas as dificuldades que a família passa, a maneira de lidar com esses assuntos é uma coisa que eu via e vejo na minha casa. É uma maneira positiva de viver", assume ela. Assim como a personagem, a artista é uma matriarca no melhor estilo 'Éramos Seis'. Casada há 31 anos com o cantor Orlando Moraes, ela é mãe de Cleo, de 36 anos, Antonia, de 27, Ana, de 19, e Bento, de 14 anos. Os seis Pires de Moraes. "Eu nunca tive uma expectativa do que os meus filhos iriam ser. É tão difícil a gente achar o caminho próprio. Eu aplaudo eles demais, em tudo o que eles escolherem ser", garante.

Não é à toa que a atriz, que completa 50 anos de carreira neste ano, zela muito por Cleo e Antonia. Principalmente após as moças confessarem, no programa 'Conversa com Bial', da Globo, que superaram dificuldades com transtornos alimentares e depressão. "Você imagina como é que eu fiquei, né? Depois pra dormir foi uma loucura! Elas são motivo de orgulho pra mim. A coragem delas, e a autenticidade também", derrete-se a estrela, de 56 anos, que apoia o fato de Cleo ter mudado seu corpo em prol da saúde mental. "Acho a atitude dela perfeita. Ela tem que ser feliz. Acho que todo mundo precisa se encontrar".

Gloria Pires com Orlando Moraes, Ana, Antonia, Bento e Cleo - Reprodução do Instagram

Carreira gloriosa

É em 2019 que a veterana completa 50 anos de uma brilhante carreira na televisão. Apesar de nunca ter feito teatro, a atriz fez grandes trabalhos na Globo, como 'Vale Tudo', 'Mulheres de Areia', 'Memorial de Maria Moura', 'Anjo Mau' e tantos outros papéis memoráveis no cinema. "Cheguei a um lugar que nunca imaginei. Eu não imaginava completar 50 anos de carreira. Todas as pessoas que conheci e todos os amigos que fiz no meio artístico. Tive tantas oportunidades, tanta sorte na minha trajetória, sempre fui chamada para trabalhos significativos. O balanço é de felicidade", comemora. 

Mulher batalhadora

A próxima novela das seis, escrita por Angela Chaves, é dividida em três fases, separadas nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Casal sonhador, Lola e Júlio batalham para criar os filhos Carlos (Xande Valois/Danilo Mesquita), o mais velho e mais responsável, Alfredo (Pedro Sol/Nicolas Prattes), pivô de confusões em casa e com os vizinhos, Isabel (Maju Lima/Giullia Buscacio), determinada e independente, e Julinho (Davi de Oliveira/André Luiz Frambach), o mais carinhoso. Tudo vai bem na família, até que questões financeiras e econômicas da época fazem com que Lola assuma um lugar de provedora ao lado do marido. Se não bastasse, ela ainda sofre com as traições de Júlio, que frequenta um cabaré para se encontrar com a amante, Marion (Ellen Roche).

"A minha Lola não é a mãe boazinha, mas é uma mãe amorosa. Uma mãe que procura compreender e ajudar os seus filhos. É também uma esposa dedicada, que honra muito esse casamento. O livro é bem mais triste. A novela tem um lado de humor", explica Gloria, que está emocionada em viver a personagem. "É uma novela icônica. Tenho recebido um feedback incrível de pessoas que assistiram às versões anteriores e estão ansiosas. Estou com o coração na mão", diz. Nas versões anteriores de 'Éramos Seis', Lola foi interpretada por Nicette Bruno, na extinta TV Tupi, em 1977, e posteriormente, por Irene Ravache, no remake da trama em 1994, no SBT.

A atriz com Danilo, André Luiz, Giulia, Nicolas e Antonio Calloni - Reprodução do Instagram

Apesar de ser uma novela de época, a nova versão da história traz conflitos compatíveis com os dias atuais. "Vamos trazer para o realismo. É claro que mudou dos anos 20 pra cá. Mas, mesmo sendo uma história no passado, dá pra pensar em muita coisa de hoje", entrega Gloria, ressaltando o empoderamento feminino como ponto positivo nas mudanças ao longo dos últimos anos. "Felizmente, cada vez há mais movimentos de aceitação, aceitação com o que a gente realmente é", diz.

Corte e costura

Quando Lola se vê tendo que lutar para manter sua casa, ela começa a costurar para tirar uma renda extra. Gloria lembra com carinho o tempo em que passava tardes na barra da saia da mãe, enquanto ela confeccionava roupas. "Os álbuns de família estão sendo muito companheiros nessa novela. E isso me emociona muito. Eu, Gloria, tenho a maior ligação com a costura, porque a minha mãe fazia coisas pra mim, pra minha irmã. O tempo inteiro em que ela estava na máquina, eu estava junto com ela. Isso me traz muitas lembranças, e eu adoro", diz ela, íntima com a arte das agulhas. "Eu sei fazer bordado e aprendi a fazer tricô. O que também é uma delícia, já virou um vício", entrega.

 

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