Cleo - Ernna Cost/Divulgação
CleoErnna Cost/Divulgação
Por Leonardo Rocha
Rio - Ela é uma mulher livre no sentido mais amplo da palavra. E há quem discorde? Dona de uma personalidade forte e um tanto quanto misteriosa, Cleo gosta mesmo é de se reinventar a cada primavera. Não é a toa que, aos 37 anos - recém completados na última quarta-feira, dia 2 -, a atriz e cantora rejeita os padrões estéticos de beleza, passa por um processo pessoal de desconstrução e assume uma nova faceta profissional: o de produtora executiva do "Cleo On Demand". Um projeto audacioso no IGTV do Instagram, com conteúdos artísticos, que, mais do que entreter, têm como pilar fazer um alerta sobre machismo, racismo e homofobia.
"O que me motivou mesmo foi essa onda de censura, preconceito e ignorância. É uma plataforma de conteúdo de resistência para todas as pessoas que estão sofrendo por sua existência.Um projeto pequeno,feito com o meu dinheiro e de mais duas atrizes da série, que também estavam com vontade de falar sobre esses assuntos humanos, que permeiam a vida de todos nós", adianta Cleo, aproveitando a rede sociais, onde é seguida por 11 milhões de pessoas, como uma ferramenta de streaming. Um pouco parecida com a Netflix, só que de graça. "Tenho o privilégio de contabilizar tantos seguidores, um alcance tão grande, que pensei em usar isso a favor do que a gente realmente acredita. De uma forma útil e construtiva".

Risco é outra sensação que motiva as transformações de Cleo. Com uma carreira sólida na televisão, no cinema e também na música, seria fácil para ela se manter numa zona de conforto. Mas a estrela inquieta, deixa o marasmo de lado para se aventurar por trás das câmeras. "Quando a gente começou eu não pensei que seria produtora. É um titulo muito chique, mas bem trabalhoso", afirma, impedindo que rótulos cortem suas asinhas. "Tudo na vida é um risco. Costumo não pensar muito nisso, por mais que eu sinta essa sensação. Eu só consigo pensar no que eu quero e preciso fazer. Porque, no fundo, da muito medo, mas não deixo isso me controlar", enfatiza.

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A primeiro produção própria do "Cleo On Demand" é a série "Onde Está Mariana?", que já está no ar e convida o público a uma reflexão sobre o feminicídio e as diferentes faces do machismo. Outra novidade são as atrizes convidadas. Além da protagonista ser MC Rebecca, a participação de Valesca Popozuda, Pepita, King, Vilma Melo, Giovanna Ewbank, Sabrina Sato e Luisa Sonza traz todo um charme aos episódios. O que elas têm em comum? Todas já passaram por algum tipo de violência ou situação constrangedora na vida. "Essas mulheres têm um universo interior maravilhoso.Eu sou amiga delas, admiro e sou fã delas. A Valesca eu ouço desde adolescente. Acho ela uma vencedora. Tinha vontade de ver mais delas", conta Cleo.
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Assim como suas colegas, a atriz e produtora assume que já sofreu com antigos namorados e chegou até a se sentir culpada por isso. "Já vive um relacionamento abuso. Às vezes a gente passa por relações muito abusivas emocionalmente que nem se da conta, achamos que é assim mesmo por sermos mulheres, mas isso está errado. Está todo mundo passando por um momento de desconstrução. Tanto homens, como mulheres", afirma ela, que ainda dá o papo: "Acho que os homens deveriam usar melhor seus privilégios".
Além da série 'Onde Está Mariana?', o projeto Cleo on Demand, traz a animação 'D.I.V.A', dublada por Pepita, um documentário sobre arte, moda e desconstrução com Rômulo Deu Cria, um curta-metragem protagonizado por Vera Holtz e uma peça de teatro com Tais Araujo. E este é só o começo. "Tenho interesse em distribuir em outras plataformas, expandir esse lugar de fala".

Remando contra a maré

Em um momento em que a cultura é massacrada por parte da opinião pública, a atriz, cantora e produtora, está disposta a criar seus próprios conteúdos, militando sobre os direitos humanos. "A arte causa desconforto mesmo, e tem que causar. Eu não estou indo contra a maré, as pessoas que estão erradas de irem contra a maré normal do direito a individualidade e a vida. Você precisa ser quem é pra ser feliz", diz.

Apesar do empoderamento e da liberdade, Cleo se considera uma feminista em construção. "Eu não sei se teve um momento em que eu me vi feminista. Tento sempre o meu melhor. Ás vezes consigo, outras não. Esse projeto me faz aprende. A vida é uma super oportunidade de evolução".

Seja seu próprio padrão

Alvo de comentários maldosos sobre o seu corpo nas redes sociais, Cleo pontuou como foi difícil ouvir críticas sobre a sua imagem ao sofrer de compulsão alimentar. Hoje, de bem com sua forma física, a atriz lembra como era difícil se adequar a padrões de beleza, já superados por ela neste momento de desconstrução. "Sou assim desde que eu nasci. Sempre tenho transformações saturninas que revolucionam tudo o que eu acho, sinto, penso. E acho muito bom, porque, do contrario, seria chato",destaca ela.

Como toda libriana, a indecisão permeia certas atitudes, mas o desejo de levantar a bandeira do amor próprio é sua nova causa. "Eu sinto que tenho sorte de poder usar a arte pra me expressar, ganhar minha vida e, quem sabe, ajudar outras pessoas. Não é algo muito pensado, acaba meio que sendo uma extensão do que eu estou vivendo no momento, não é muito maquiavélico. Trazer isso para o meu trabalho é algo que acaba acontecendo naturalmente", reflete.

Berço de amor e arte

Filha da atriz Gloria Pires e do cantor Fábio Jr., Cleo cresceu nos holofotes da fama e precisou aprender na marra a ser uma celebridade, mesmo antes de escolher sua profissão. Depois de tantos altos e baixos, ela garante que expõe menos a vida particular. "Eu já fui várias vezes anônima, só quando estou fora do Brasil (risos). Mas aqui eu consigo ter uma vida tranquila, sim. Vou ao shopping, faço tudo... talvez me limite na intensidade de certas coisas, tenho que camuflar, mas não me privo de nada", aponta ela.

Sem data para voltar à televisão, a atriz tem lança uma nova música no mês que vem e revela o desejo de atuar futuramente com a mãe. "Eu seria filha dela pra sempre, de todas as formas, em todas as vidas. Mas quero que acontece esse momento de atuarmos novamente juntas", diz.