Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2019, INAUGUACAO DA DHBF - Governador Wilson Witzel, esteve presente a Inauguracao da nova sede da Delegacia de Homicidios da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.Foto: Armando Paiva / Agência O Dia inaugyracao, DHBF, Delegacia de homicidios, Rio de Janeiro - Armando Paiva
Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2019, INAUGUACAO DA DHBF - Governador Wilson Witzel, esteve presente a Inauguracao da nova sede da Delegacia de Homicidios da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.Foto: Armando Paiva / Agência O Dia inaugyracao, DHBF, Delegacia de homicidios, Rio de JaneiroArmando Paiva
Por MARTHA IMENES

Rio - A saia justa que o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), tomou ao ter uma "mentirinha" sobre sua formação acadêmica no currículo desmascarada pode, e deve, ser evitada por quem está em busca de um emprego. Especialistas orientam a não turbinar o documento com graduações e experiências que não existem. Isso porque as empresas conferem as informações e, além de passar uma vergonha, o candidato espertinho não será selecionado e pode até ser demitido, caso tenha sido contratado com base em informações falsas. No caso do governador, ficou só na vergonha mesmo.
Entre os principais casos de "turbinada" em currículo que devem ser evitados estão os que mentem sobre a fluência em idioma estrangeiro ou que colocam títulos de graduação ou pós-graduação concluídos, como no caso do governador do Rio.
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"É importante destacar que não há nada de errado em querer ter um currículo que realce os pontos positivos da pessoa, há até orientações de como fazer isso, mas nenhuma delas inclui a mentira", orienta Lucia Madeira, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio.
A lisura das informações é defendida pela especialista, que adverte sobre os efeitos dos dados falsos no currículo. "O que temos de mais importante é a nossa reputação no mercado de trabalho. Uma situação destas 'queima' o profissional para futuras oportunidades", avalia Lucia Madeira.

Entenda o caso

O governador, que é ex-juiz federal, colocou em seu currículo na plataforma Lattes um curso de pós-graduação em Judicialização da política na Universidade Federal Fluminense (UFF), ministrado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, segundo informações do jornal O Globo. Mas foi uma pegadinha: segundo a UFF, o governador sequer participou do processo de seleção.
A justificativa para a turbinada? Segundo a assessoria de Witzel era intenção do governador estudar na universidade durante um ano quando ainda era juiz federal, o que não ocorreu. "Isso não pode acontecer, intenção não é formação", ressaltou Débora Nascimento, especialista em RH e diretora-geral do Grupo Capacitare.
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A ação do governador não terá maiores consequências. "Como não representou nenhum benefício ou proveito econômico, a mentira no currículo não passará de constrangimento", afirmou Manoel Peixinho, especialista em Direito Administrativo e Constitucional e professor da PUC-RJ. "Para mim é vergonhoso! Nunca menti em currículo, é desonesto", afirma o servidor público Noujain Uruguaçu, 51 anos, de Nova Iguaçu.

Dicas para fazer perfil profissional
E em tempo de desemprego em alta, são mais de 13 milhões no país e 1,3 milhão de pessoas sem trabalho no Rio, estar de olho nas oportunidades e com o currículo em dia é a principal dica de especialistas em recrutamento e seleção. É com esse "cartão de visitas", por assim dizer, que as empresas avaliam o perfil do candidato e se as suas aptidões preenchem os requisitos do cargo pretendido.
Especialistas orientam a "enxugar" o documento e focar em informações básicas, como nome, telefone e e-mail, para que a empresa entre em contato com facilidade.
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"Seja claro e objetivo, sem 'firulas', coloque o que é realmente relevante para aquela oportunidade para a qual você está se candidatando", afirma Débora Nascimento.
"Nas experiências profissionais, sempre comece pela mais recente e depois vá para as mais antigas. Coloque empresa, último cargo, data que esteve contratado e resumo de atividades que realizava", orienta.
E atenção aos perfis em Facebook, Instagram e LinkedIn. "As redes sociais contam na avaliação do candidato. Não dá mais para separar a pessoa do profissional. Comentários preconceituosos, violência podem criar imagem negativa do profissional que pode deixar de ser escolhido por isso", alerta Lucia Miranda.

Lembre outros casos recentes de 'pega na mentira'
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A mentira do governador Wilson Witzel não foi um caso isolado. Políticos, personalidades e até desconhecidos têm adotado essa prática de incrementar o currículo, mas na hora H, a formação "desaparece". Nos últimos dias, uma professora, que ganhou notoriedade por sua origem simples e, assim como o governador Witzel, disse ter estudado em Harvard foi desmascarada. Segundo o jornal 'O Estado de S. Paulo', Joana D'Arc Félix ostentava um diploma falso.
Na semana passada, Joana afirmou que o documento se tratava de uma "encenação de teatro". "Eu não concluí (o pós-doutorado), eu não tenho certificado. As meninas mandaram junto quando o jornalista me pediu documentos. Eu pensei: tenho que contar isso para o jornalista, mas não falei mais com ele", disse.
Outra que passou pelo desmentido foi a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Em 31 de janeiro, o jornal 'Folha de S. Paulo' publicou reportagem na qual apontava que, Damares se apresentava à plateia como "mestre em Educação" e em "Direito Constitucional e Direito da Família".
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O problema é que, de acordo com o jornal, Damares não teria nenhum desses títulos. Procurada pelo DIA, a ministra não se pronunciou.  Em fevereiro, o site The Intercept Brasil publicou texto em que informava que o título de "mestre em Direito Público pela Universidade de Yale" divulgado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, era falso. Yale informou que o ministro nunca tinha passado por lá. Salles foi mais um que procurado pelo DIA, não se manifestou.
Cercado de polêmica, o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez tem erros em informações registradas em seu currículo na Plataforma Lattes, de acordo com um levantamento do site Nexo. A produção acadêmica de Vélez, segundo a página, foi inflada. Lá, contêm livros cujas autorias não eram do ex-ministro e uma série de artigos publicados em periódicos sem reconhecimento científico.