Segundo ministro da Educação, autoridades não tiveram acesso à prova, que já foi encaminhada para a impressão - Valter Campanato/Agência Brasil
Segundo ministro da Educação, autoridades não tiveram acesso à prova, que já foi encaminhada para a impressãoValter Campanato/Agência Brasil
Por Carolina Pavanelli *

Rio - Pode perguntar para qualquer estudante de Ensino Médio no Brasil. A pergunta de um milhão de reais, aquela pela qual ele pagaria todo o dinheiro que tem (?) para saber a resposta é: o que vai cair no ENEM? Essa curiosidade irremediável causa mais do que olheiras e crises de choro em nossos jovens, mas promove uma corrida desenfreada de cursos e plataformas de videoaulas online que reinventam seus modelos e seus professores a fim de se diferenciarem em uma missão em comum: encontrar a tal resposta de 1 milhão.

Não há como adivinhar. É claro que, como qualquer concurso, o ENEM vem apresentando, ao longo dos anos, algumas tendências em relação a conteúdos e estilos de questões que aparecem em praticamente todos os exames sem qualquer surpresa. É o caso, por exemplo, de “sustentabilidade” em Ciências da Natureza e “Modernismo” na prova de Linguagens. Na Redação, sempre se espera um tema com algum cunho social e que peça uma proposta de intervenção para a problemática abordada. Isso é de praxe e os colégios e cursos desenvolvem toda a grade horária em cima disso.

No entanto, vivemos novos tempos em 2019. No ano passado, uma questão que falava sobre o pajubá, vocabulário usado pela população LGBTQ, gerou tamanha controvérsia que o Presidente da República eleito e o presidente do INEP falaram que irão, pessoalmente, ver a prova antes da sua aplicação. Isso dita muito do que está por vir.

Nesse sentido, não devemos esperar exatamente as mudanças previstas para 2021 ou 2023, com a Reforma do Ensino Médio. No entanto, deve-se esperar uma prova que se afasta das discussões que pendem para o lado das problemáticas sociais, dos temas polêmicos (e por vezes incômodos) e da resolução de questões que dizem mais respeito à vida cotidiana e ao conhecimento aplicado à realidade, e se aproxima da decoreba de outrora. O ENEM desse ano provavelmente trilhará um caminho mais seguro nas temáticas, evitando quaisquer chances de possíveis controvérsias, e poderá até mesmo flertar com uma ótica mais conservadora: menos contexto, mais fórmula. Menos pensamento crítico, mais conteúdo.

O ENEM faz parte da vida dos alunos brasileiros e, como ela, é imprevisível. Mas como tudo nela também, se encaixa dentro de uma realidade, e entende-la será essencial para julgar os rumos desse exame.

* Carolina Pavanelli é formada em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense, com pós-graduação pela PUC-Rio e MBA pela FGV. Trabalha com educação há dez anos e dá aulas de Redação com ênfase na produção de textos nos moldes dos vestibulares e ENEM. Ela escreve às quartas-feiras em O DIA. Seu Instagram é @_carolinapavanelli 

 

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