O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente Emmanuel Macron, o premier italiano, Giuseppe Conte e o presidente da União Europeia, Donald Tusk - Markus Schreiber / AFP
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente Emmanuel Macron, o premier italiano, Giuseppe Conte e o presidente da União Europeia, Donald TuskMarkus Schreiber / AFP
Por AFP
França - Os devastadores incêndios na Amazônia e o aumento das tensões comerciais no mundo concentravam, neste sábado, as discussões no início do G7 de Biarritz, na França, uma cúpula sob clima tenso e de divisões.

O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do encontro, apelou a "uma mobilização de todas as potências" para ajudar o Brasil e os demais países afetados a lutar contra os incêndios florestais na Amazônia e para investir no reflorestamento das regiões atingidas.

"Devemos responder ao apelo da floresta (...) da Amazônia, nosso bem comum (...) então vão agir", pediu em um discurso televisionado, antes de receber seus colegas.

As negociações podem ser delicadas, depois que Macron acusou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) de "mentir" sobre seus compromissos climáticos e de "inação" diante dos incêndios. Suas críticas podem contrariar Donald Trump, de quem Bolsonaro é um firme defensor no cenário internacional.

Berlim também manifestou relutância ao anúncio de que Paris bloquearia o projeto de acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, um assunto que será abordado durante a reunião entre Angela Merkel e Macron.
Trump e Macron - Ludovic Marin / AFP


Mas o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, presente em Biarritz, reconheceu que seria "difícil imaginar" que a UE ratifique tal acordo enquanto o Brasil "permitir a destruição" da Amazônia.

Juntamente com o presidente americano, Angela Merkel, Boris Johnson, Giuseppe Conte, Shinzo Abe e Justin Trudeau marcarão o início da cúpula em um jantar informal organizado por Emmanuel Macron no farol de Biarritz, com vista para o Atlântico.

Antes, Macron e Trump almoçaram juntos para amenizar suas diferenças, um encontro que não havia sido planejado previamente. Segundo a presidência francesa, os dois apresentaram "elementos de convergências" sobre as grandes questões a serem tradadas no G7, como comércio, o Irã e a Amazônia.

No final do almoço, Donald Trump tuitou: "Acabei de almoçar com o presidente francês @EmanuelMacrone", alguns minutos antes de se corrigir "@EmmanuelMacron". "Há muitas coisas boas acontecendo para nossos dois países. Grande final de semana com outros líderes mundiais", acrescentou.
TRUMP AMEAÇA VINHO FRANCÊS
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Os milhares de diplomatas e jornalistas presentes em Biarritz aguardam para ver qual será a atitude do imprevisível presidente americano sobre outras questões. Antes de voar para a França, Trump pareceu otimista. "Acho que será muito produtivo", disse ele, a repórteres.

Mas o republicano brandiu a ameaça de retaliação à imposição de um imposto francês sobre os gigantes americanos do setor de alta tecnologia.

"Eu não gosto do que a França fez", lançou. "Eu não quero que a França imponha impostos às nossas sociedades, é muito injusto (...) Se o fizerem, vamos impor tarifas sobre seus vinhos", avisou.

Donald Tusk reagiu, dizendo que a UE estava pronta para retaliar se Washington colocar sua ameaça em ação.
"As tensões comerciais são ruins para todos", considerou Macron, enquanto o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu calma, dizendo estar "muito preocupado" com a guerra comercial sino-americana, que poderia afetar o Reino Unido e prejudicar a economia global.
Merkel e Macron - Ludovic Marin / AFP


Os debates se anunciam acirrados sobre a taxação dos gigantes digitais, o impulso à economia global ou as tensões comerciais entre Pequim e Washington, após a imposição de novas tarifas por ambos os lados.

Sobre o programa nuclear do Irã, outra questão espinhosa, Macron informará seus colegas do conteúdo de seu encontro com o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif.

Outro evento importante será o encontro no domingo entre Trump e o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. A Casa Branca disse que Donald Trump está "muito animado" com a ideia de discutir com Johnson o futuro acordo de livre comércio entre os dois países após o Brexit.

Diante da multiplicidade de temas, os organizadores franceses tentarão avançar questões substantivas que serão tema de sessões especiais: o combate à desigualdade, a educação na África ou a proteção dos oceanos.

Com a esperança de alcançar "iniciativas concretas", compartilhadas com os líderes convidados, como o indiano Narendra Modi ou seis chefes de Estado africanos.
Encontro de líderes mundiais acontece no Biarritz - Ludovic Marin / AFP


PROTESTOS
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À margem da cúpula, milhares de opositores ao encontro do G7 em Biarritz iniciaram em Hendaye, no sudoeste da França, uma manifestação que os levará à cidade espanhola de Irun, em uma marcha de 4 km autorizada pelas autoridades.

Os organizadores esperam reunir "pelo menos 10 mil pessoas" em um protesto que começou no porto de Hendaye, sob uma atmosfera calma.

Os manifestantes agitavam numerosas bandeiras bascas (ikurriñas vermelhas, verdes e brancas) num protesto que reúne militantes anti-capitalistas, alter-globalistas, ecologistas e nacionalistas bascos, bem como dezenas de "coletes amarelos".

"É importante mostrar que a população está se mobilizando e que não está de acordo com o mundo que eles nos propõem", disse Elise Dilet, manifestante de 47 anos, que milita na associação basca Bizi. "Queremos que a manifestação seja totalmente pacífica e, embora temamos alguns incidentes, faremos todo o possível para que isso não aconteça".

Na sexta-feira à noite, ocorreram os primeiros confrontos entre manifestantes e as forças de segurança em Urruña, perto do campo onde é realizada a cúpula alternativa ao G7. Os manifestantes jogaram projéteis na polícia, que usou gás lacrimogêneo e balas de borracha. Dezessete pessoas foram presas e quatro policiais ficaram levemente feridos.
Manifestantes fazem protesto - Georges Gobet / AFP