Michelle Bachelet - AFP
Michelle BacheletAFP
Por AFP
La Paz - Autoridades bolivianas de alto nível pediram neste sábado (16) a pacificação do país, após a morte, na véspera, de cinco camponeses leais ao ex-presidente Evo Morales em confrontos com a polícia, o que levou a ONU a alertar contra o uso desproporcional da força pelo novo governo.
"Estamos passando por momentos difíceis, pedimos aos movimentos sociais e outras organizações que diminuam as posições. Não podemos viver de luto", reclamou a presidente da Câmara de Senadores, Eva Copa, do partido de Morales.
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"Convocamos a agora situação a poder sentar para dialogarmos sobre as bases nas quais vão ser enquadradas esta convocação e estas [novas] eleições", disse Copa.
Jerjes Justiniano, ministro da Presidência do novo governo da presidente interina Jeanine Áñez, tinha afirmado antes que as gestões para acabar com a violência devem envolver "o país todo" e pediu aos bolivianos: "vamos parar com essa atitude (de confronto) e, ao contrário, buscar coisas que nos unam".
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Contudo, uma "concentração pela paz", convocada por associações de moradores de La Paz para pedir por o fim da violência após quase quatro semanas de protestos, confrontos e saques, foi suspensa de última hora, segundo os organizadores, "por motivos de segurança".
A algumas quadras do local onde a concentração aconteceria, cerca de mil camponeses vindo de um povoado de La Paz marcharam em protesto contra o novo governo provisório e em defesa de Morales.
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Morales, asilado no México desde a terça-feira, renunciou no domingo após perder o apoio das Forças Armadas, após três semanas de protestos por sua questionada reeleição no pleito de 20 de outubro.
Jean Arnault, enviado pessoal do secretário-geral da ONU, António Guterres, para se unir a uma mesa de negociação entre governistas e congressistas pró-Morales, teve neste sábado um primeiro contato com Áñez no Palácio Quemado, em La Paz.
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Falou com ela sobre a "pacificação", "e da necessidade urgente de um diálogo e conseguir o objetivo desejado de realização de eleições transparentes" (um compromisso assumido pela presidente interina), disse a jornalistas.
A violenta sexta-feira, que deixou cinco camponeses cultivadores de coca mortos, segundo o governo, e oito, de acordo com a Defensoria Pública, elevou a 15 o balanço provisório de mortos desde o início dos conflitos.
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A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, denunciou neste sábado "o uso desnecessário e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército" que pode levar a situação na Bolívia a "sair do controle".
"Realmente me preocupa que a situação na Bolívia possa sair do controle se as autoridades não a gerenciarem cuidadosamente, de acordo com as normas e os padrões internacionais que regem o uso da força e com um respeito pleno aos direitos humanos", ressaltou a Alta Comissária.
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Bachelet destacou que 14 pessoas morreram nos seis dias seguintes ao exílio do ex-presidente Evo Morales no México. "Condeno essas mortes. Trata-se de um desenvolvimento extremamente perigoso, pois longe de apaziguar a violência, é possível que a agrave", acrescentou.
A proclamação da direitista Áñez como presidente na terça, em uma sessão sem o quórum regulamentar e após a renúncia de todos os que lhe antecediam na linha sucessória, revolta os seguidores de Morales.
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"Tem mobilizações por toda parte, essas últimas 72 horas foram duras", criticou o ministro de Governo (Interior), Arturo Murillo, que anunciou que a ordem que as forças militares e policiais receberam é de "proteger o povo".
Desde a renúncia de Morales, após quase 14 anos no poder, seus partidários protestam nas ruas convencidos de que ele foi vítima de um golpe de Estado por parte da oposição.
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"Nosso povo pede paz e acordo", tuitou Morales, do México. "Reitero minha convocatória ao diálogo de alto nível com mediadores para pacificar nossa querida Bolívia e preservar a vida e a democracia".
A presidente interina denunciou a presença de "grupos subversivos armados" no país, compostos por estrangeiros e bolivianos, mas expressou confiança de que "muito em breve possamos gritar liberdade".
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"O propósito é que haja uma transição democrática e pacífica, mas infelizmente Evo Morales deixou uma estrutura de violência que está afetando todos nós", criticou neste sábado em contato por telefone com o líder opositor venezuelano Juan Guaidó, a quem exortou "libertar" seu país.
Em outro sinal das mudanças drásticas entre o governo de Áñez e o de Morales - aliado de Havana e da Venezuela, de Nicolás Maduro -, o diretor do escritório boliviano da Interpol informou neste sábado que um primeiro contingente de 226 médicos cubanos, de um total de 725 colaboradores, foram repatriados.