Julio Furtado - Divulgação
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Por O Dia
Rio - Talvez a principal característica da atual geração de pais e educadores seja a ingenuidade com relação à concepção de educar. Essa ingenuidade tem como alavanca a crença de que apenas palavras e carinho educam. O estabelecimento de limites é fundamental para que crianças e jovens cresçam a partir da dicotomia respeito/transgressão. Outra característica evidente, em especial dos pais, é a carência afetiva. Migramos de uma geração de pais que exigiam respeito (como os meus) para uma geração de pais que exigem amor. Como julgam mais importante serem amados do que respeitados, encaram o desrespeito como atitude normal e perdem a oportunidade de ajudar as crianças a aprenderem a amar, já que o respeito antecede o amor.
O desenvolvimento da tolerância tem raízes semelhantes. Preciso aprender a respeitar o outro, mesmo que se oponha as minhas opiniões e valores e isso demanda resistência à frustração. Precisamos resistir construtivamente à frustração do outro não concordar conosco e isso se expressa quando, independentemente do que pensa ou sente o outro nós o aceitamos, sem gerar em nossa vida emocional, barreiras de aversão. Assistimos nos últimos meses um verdadeiro festival de rompimentos relacionais em função de divergências político-ideológicas e isso, aliado à crescente onda de divergências odiosas torna urgente o ensino de tolerância nas escolas.
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Crianças que não tiveram os limites relacionais bem colocados tendem a achar que estão sempre certas e que todos precisam concordar com elas. O papel da educação é desenvolver a habilidade de argumentação, que pressupõe ouvir o outro, analisar o que diz e formular uma ideia que o leve a repensar suas convicções, ou seja, mesmo num debate acirrado, vence aquele que conseguiu atingir mais crenças do outro e não o que falou mais alto. Exercitar formas civilizadas e empáticas de discordar do outro desde a infância é um exercício primordial para o desenvolvimento da tolerância construtiva.
Exercitar a habilidade de argumentação é decisivo na construção da tolerância construtiva, assim como reconhecer quando o outro atingiu nossas crenças ou quando não conseguimos atingir as dele. A tolerância não implica resignação passiva. Pelo contrário, precisa ser viabilizadora de bons relacionamentos que, por sua vez, favorecem a aceitação do outro que, como nós, acerta e erra. Por tudo isso, ensinar tolerância é urgente!
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Júlio Furtado é professor e escritor