Ivanilda Figueiredo - Divulgação
Ivanilda FigueiredoDivulgação
Por O Dia
Rio - Mulheres trans e lésbicas negras e latinas foram as principais forças de oposição à polícia na Revolta de “Stonewall”, em Nova Iorque, há 50 anos. Se hoje, ao andar nas ruas daquela cidade, o bar “Stonewall Inn” é um reduto boêmio LGBT+ em uma área bastante valorizada da cidade, o “Village”, o cenário não era esse em 1969. Naquele período, o bar seria o que no Brasil é conhecido como um inferninho. Ou seja: um bar pequeno com pouca estrutura. Além disso, era frequentado por pessoas que naquele momento não eram bem-vindas em outros locais da cidade.

Os bares LGBTs+ nas grandes cidades dos Estados Unidos eram os espaços onde cada pessoa podia viver mais abertamente seus desejos e identidades; eram um suspiro de liberdade em uma sociedade ainda estruturada rigidamente em padrões heteronormativos. Até 1962, era crime o afeto entre pessoas do mesmo gênero nos EUA; em 1969, a existência trans era criminalizada e se as pessoas fossem “descobertas”, seriam presas. E justamente por serem guetos, esses bares eram espaços nos quais as forças policiais realizavam batidas constantes.

Naquela noite, há 50 anos, em 1969, Marsha P. Johnson, uma mulher trans, negra e pobre; Stormé DeLarverie, também uma mulher lésbica e negra, e tantas outras mulheres e homens LGBTs+ frequentadores do local resolveram enfrentar os abusos policiais e se recusaram a sair para serem revistados ou pagar qualquer quantia. Foram agredidos e resistiram por duas noites.

Dessa experiência foram surgindo coletivos baseados no Orgulho LGBT+ que realizaram em 1970 a primeira Parada do Orgulho em Nova Iorque. Orgulhar-se é um ato revolucionário numa sociedade que te odeia e te diz para esconder-se.

Celebrar Stonewall é reconhecer a importância e a força da diversidade; é reconhecer a luta LGBT+ como universal. Mesmo em países ditos desenvolvidos, foi apenas por meio de muitos enfrentamentos que o nosso direito de existir e nos orgulharmos de nossa existência foi conquistado.

Neste momento, como o que vivemos hoje no Brasil, no qual desde a Presidência e ministérios, até inúmeros escalões dos governos estaduais e municipais, dos legislativos e da própria sociedade, vemos emergir lideranças dispostas que pregam o ódio contra pessoas LGBTs+, nos ameaçam com a revogação de direitos duramente conquistados e querem nos fazer voltar a temer andar nas ruas com nossos corpos e afetos. Assim, celebrar Stonewall é um grito colorido de resistência. Existimos orgulhosamente e não retrocederemos.

Ivanilda Figueiredo é advogada, professora da UERJ e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ