Julio Furtado - Divulgação
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Por O Dia
Rio - O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) tem melhorado na maioria das cidades brasileiras, em especial nos anos iniciais. É uma vitória que merece ser comemorada, com certeza. Mas indo um pouco mais a fundo nesse já consagrado índice, descobrimos que ele esconde uma forte desigualdade que precisa ser seriamente encarada. Se dividirmos os alunos de escolas públicas em cinco grupos de nível socioeconômico, vamos verificar que existe uma grande diferença no desempenho entre o grupo de maior e menor condição socioeconômica, equivalente a dois anos de escolarização, ou seja, crianças de classe média que cursam o nono ano estudam lado a lado, com colegas mais pobres que apresentam desempenho escolar equivalente ao sétimo ano.

É isso que mostra o novo Indicador de Desigualdades e Aprendizagens (IDeA), elaborado pelo ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), professor Francisco Soares. O IDeA mede se o ensino oferece igualdade de oportunidades a todos os alunos, independentemente de suas condições socioeconômicas, sexo e raça. Dessa forma, poderemos verificar se os bons indicadores de aprendizagem dos municípios refletem o fato de todos estarem aprendendo por igual.

A escola precisa fazer com que todos os alunos aprendam. Fazer apenas os melhores aprenderem não traduz a competência da escola. Os bons alunos já possuem os elementos que facilitam a aprendizagem que são interesse, esforço, concentração e responsabilidade. O grande desafio encontra-se nos alunos que não possuem esses pré-requisitos e a escola precisa assumir a responsabilidade de desenvolvê-los. Essa situação é análoga ao fato de hospitais serem considerados bons, somente por tratarem casos simples como viroses e alergias que são estatisticamente mais frequentes. A competência de um hospital está em tratar com eficácia todos os casos, em especial os mais graves.

Esse desequilíbrio esconde o fato de os melhores alunos responderem melhor a um ensino tradicional, onde o professor fala e o aluno ouve e, passivamente, só executa as atividades. Esconde também a imensa dificuldade de a escola romper com esse modelo e adotar metodologias participativas que, comprovadamente são mais democráticas em termos de promover a aprendizagem de todos, mas que exigem que a escola adote uma postura de inovação. Qualidade apenas para os melhores não é qualidade.
Júlio Furtado é professor e escritor