Marcus Braga - Divulgação
Marcus BragaDivulgação
Por O Dia
Rio - Esse quatro de julho da independência estadunidense foi marcado pela estreia bombástica da terceira temporada da série Stranger Things (“Coisas estranhas”), nostálgica película que desperta efusivo interesse em jovens e nem tão jovens assim, com tramas juvenis que misturam conspirações, mistérios e ficção cientifica, em um saboroso ambiente dos filmes da década de 1980.

A fictícia cidade de Hawkings é o palco de aventuras de jovens diante de ameaças sobrenaturais, aventuras essas que não me deterei em detalhes, em respeito ao leitor que não assistiu ainda, mas que podem servir de reflexão para os momentos difíceis que vivemos na história recente do Estado do Rio de Janeiro, em relação a corrupção, em suas diversas formas, e que nos fez tomar conhecimento de coisas estranhas na gestão, que não desejamos naturalizar.

Desvios, direcionamentos, superfaturamentos, uma gama de irregularidades possíveis em qualquer gestão, governamental ou não, mas que não são desejáveis, e que necessitam serem reduzidas, com medidas sistemáticas que deem conta dessa ameaça que sempre nos assombra, como os monstros da pequena Hawkings, que espreitam o momento de avançar novamente a cada temporada.

A série fenômeno no streaming conta com uma heroína, a Eleven, que com poderes especiais, luta para enfrentar o mal oriundo do chamado “Mundo invertido”, com o respeito ao trocadilho. Mas contar sempre com esse heroísmo é uma fragilidade, e o fortalecimento de algumas práticas se apresenta como medida essencial para que não se abram novamente os canais de práticas delituosas.

Dentre as diversas propostas, o presente texto se deterá na auditoria, como função que avalia de forma sistemática a gestão dos processos mais relevantes e aponta medidas corretivas, sendo prática reconhecida internacionalmente no mundo público e privado, apresentando-se como um campo a ser fortalecido nas terras fluminenses, diante dos monstros da corrupção que dormem embaixo de nossas camas, trazendo luz aos mistérios, de forma objetiva e independente.

Para além da discussão ética, é preciso enxergar que uma estrutura mais robusta de auditoria, efetiva, profissionalizada e de qualidade, tem o condão de acompanhar a gestão de forma sistemática e preventiva, alimentando os atores de informações e de propostas de solução, que não permitam que o monstro da corrupção rompa as barreiras que o mantém confinado, e que a história de seu combate não seja uma história sem fim.

A auditoria governamental é a nossa Eleven, é uma das armas principais para se prevenir a corrupção, e seguindo a linha de Stranger Things, repleta de referências do passado, inclusive de um conhecido Stephen King, concluímos com uma citação de um outro Stephen, de sobrenome Kanitz, colunista de um semanário, que em 1999 asseverou no texto “A Origem da Corrupção Brasileira” que: “(...), o Brasil não é um país corrupto. É apenas um país pouco auditado.” Passados 20 anos, essa sentença ainda não se enquadra como ficção. 
Marcus Vinicius de Azevedo Braga é doutorando em Políticas Públicas (UFRJ) e Assessor especial da CGE-RJ