OPINA27JAN - ARTE O DIA
OPINA27JANARTE O DIA
Por Luzia Lacerda*
Há cerca de dois meses o tema religião tem ocupado lugar de destaque em muitas rodas de discussões e na mídia.

Um em especial dominou as redes sociais. O enredo da Estação Primeira de Mangueira “A verdade nos fará livre” do carnavalesco Leandro Vieira.

Assim que lançado o enredo caiu nas graças de muitas pessoas. Mas é claro que um enredo com um tema tão popular não iria caminhar até o dia do desfile sem oposição. E com a apresentação dos figurinos os embates tornaram-se mais acirrados.

Ao contrário do que muitos imaginam a discussão começou na sociedade civil que de uma forma firme trouxe as religiões para dentro da trama.

Jesus e Maria são unanimes entre as religiões. Em algumas religiões ele vem como filho de Deus e outras como profeta. Mas é reconhecido por todos.

Quando começaram a ser divulgados os figurinos alguns segundo o carnavalesco são fakes, a situação tornou-se mais delicada.

O carnaval já passou por algo semelhante em 1989 com a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis quando o carnavalesco Joãozinho Trinta trouxe o enredo “Ratos e Urubus “. Na época o carro principal era o Cristo Redentor. O então Cardeal Dom Eugenio Salles conseguiu na justiça que o Cristo Redentor não desfilasse. Poucas horas antes do desfile a LIESA conseguiu uma liminar autorizando que o carro alegórico desfilasse, mas Joãozinho Trinta preferiu passar com o carro enrolado em saco preto com a frase “Mesmo Proibido, olhai por nós”.

Depois desse episódio não tivemos mais nenhum caso que chamasse tanto a atenção.

Entretanto......

Agora em 2020 as opiniões controversas voltaram. A discussão atada entre Respeito x Censura.

Até aonde vai a liberdade de criação e quando começa o respeito a crença das pessoas.

Ao contrário de anos atrás hoje as religiões sentam-se em uma mesma mesa para dialogar. São contrarias a embates e exposições públicas e muito mais preocupada com a preservação da Fé, da Religião e principalmente das pessoas mais conservadoras e idosas que tem certas dificuldades na aceitação de alguns temas.

Também levamos em conta o trabalho dos artistas, que se debruçam em pesquisas e ideias para levar a avenida um teatro a céu aberto com conteúdo e estética.

Se é fácil? Claro que não. Estamos lidando com seres humanos, sentimentos, Fé, religião, preconceito, etnia, maldade e principalmente a vontade de alguns que não dê certo.

Mas dessa vez não foi assim.

O Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta convidou algumas lideranças evangélicas, judaicas, islâmicas, católicas e o Instituto EXPO RELIGIÃO, que reúne 24 segmentos religiosos para conversar.

Logo depois as lideranças religiosas e sentaram-se para conversar com o presidente da LIESA, Jorge Castanheira e o Diretor Elmo dos Santos. Uma troca de experiencias e de vontade de soluções. Um diálogo que jamais existiu a esse nível, confirmado por todos. Foram cerca de três horas de conversa com muita descontração e troca de informações.

Dessa reunião ficou uma sugestão do presidente da LIESA, uma reunião entre os religiosos, presidentes e carnavalescos entre abril e maio quando os enredos estão sendo definidos.

As redes sociais continuaram a ferver sobre o assunto. De sugestões arcaicas a sugestões moderníssimas.

No meio de todo esse impasse o carnavalesco Leandro Vieira, da Mangueira decidiu publicar uma carta aberta falando a verdade sobre seu enredo. Uma atitude que cresceu em muito o diálogo.

Estamos em 2020 a censura não cabe mais.

Estamos em 2020 a Fé das pessoas se fortaleceu, possivelmente por tanta dificuldade, violência, doenças e muita mais.

O consenso não é fácil. Mas o maestro é muito bom. Dom Orani pediu serenidade todo o tempo.

As religiões que participaram entraram com a única intenção de diálogo. Foram elas:

Espiritismo, Xamanismo, Umbanda, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Budismo, Islamismo (Xiita e Sunita), Indígenas, Católicos, Evangélicos, Fé Bahá’í, Matrizes Africanas, Paganismo, Catimbó, Judaísmo.

A experiência foi a melhor. Posso dizer que entre LIESA e Religiosos em vários momentos muitos se emocionaram.

Hoje nos faz muito bem ver que a Dra. Claudine Milione Dutra, diretora jurídica da arquidiocese do Rio, LIESA e Mangueira estão conversando com respeito e ponderação de todos os lados.

O que fica de mais importante de tudo isso é que nunca houve Censura sempre foi Respeito.

Respeitem a Nossa Fé!

Obrigada Maestro!
*Luzia Lacerda é jornalista e diretora responsável do Instituto EXPO RELIGIÃO