Rayanne tinha 11 anos - Arquivo Pessoal
Rayanne tinha 11 anosArquivo Pessoal
Por Anderson Justino
Rio - A escalada da violência armada que aterroriza o Grande Rio voltou a deixar marcas de sangue. O caso mais recente, ocorreu na madrugada deste domingo, em Anchieta, bairro da Zona Norte da capital, que faz divisa com o município de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Uma cachina, na região, deixou ao menos cinco mortos e sete feridos a bala. Entre as vítimas fatais está uma menina de 11 anos. Rayane Cardoso Lopes estava com o pai, Naum Henrique Silva Lopes, também baleado.
A Polícia Civil do Rio atribui o ataque a traficantes do Complexo do Chapadão, em Costa Barros. Em nota divulgada à imprensa, a instituição disse que pôde realizar uma operação na comunidade por cumprir ordens judiciais e "espera que as decisões restritivas de operações policiais no Estado do Rio de Janeiro sejam revertidas o quanto antes para o retorno das atividades policiais na sua plenitude". A chacina ocorreu na Rua Ernesto Vieira, em um dos acessos à comunidade Az de Ouro. 
Publicidade
Em áudio divulgado em grupos de WhatsApp, um morador da região tratou o caso como uma "tragédia anunciada". 

"Foi uma correria, coisa de louco. Ali já era uma tragédia anunciada. Os caras ficam mandando recadinho para o moleques do outro lado, dizendo que vão invadir a outra área, matar e fazer acontecer. Ali não era uma festa familiar, a verdade é essa. Estavam no lugar errado e na hora errada. Agora olha o que aconteceu. A garotinha, filha do Naum, levou um tiro no peito e morreu. É uma p...isso aí", diz parte do áudio. 

O delegado Luís Otávio Franco, adjunto da Delegacia de Homicídios (DH), apura a informação de uma suposta guerra de tráfico na região.

"Os moradores ventilam essa linha. São duas comunidades controladas por facções diferentes que ficam na região. É uma das linhas de investigação”, reforçou.

Testemunhas contaram que o grupo participava de uma festa junina na região conhecida como Condomínio Jamaica, quando homens armados desceram de um carro preto e efetuaram disparos na direção da concentração de pessoas. O evento descumpria as determinações dos órgãos de saúde, para evitar o contágio da Covid-19.

Todos foram socorridos e levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ricardo de Albuquerque.

Na manhã deste domingo, parte dos familiares das vítimas mortas estiveram no Instituto Médico Legal (IML) do Rio, para liberação dos corpos. Ainda abalados e assustados com a tragédia, decidiram não comentar sobre o caso. Alegaram apenas que o alvo do ataque seria um dos mortos, identificado como Yan Lucas Soares Gomes, de 23 anos, filho de um antigo traficante da região.

Além de Rayane Cardoso Lopes e Yan Lucas Soares Gomes, Yuri Lima Vieira, 23 anos e Josué de Oliveira Xavier, 20 já chegaram sem vida na UPA de Ricardo de Alburquerque. Antônio Marcos Barcelos Pereira Júnior, de 22, teve o óbito confirmado na manhã de domingo. As famílias não deram informações sobre enterros.

Os feridos são Lucas Travanca de Araújo; Alan da silva Nogueira; Naum Henrique Silva Lopes (pai da menina Rayane Cardoso); Rodrigo Souza; Amanda Cristina Godinho e Iago Breno Soares Gomes. A sétima vítima não teve a identidade revelada.  
Em nota a PM disse que o 41º BPM (Irajá) foi acionado para uma ocorrência com baleados que deram entrada na UPA de Ricardo de Albuquerque. As informações eram de que o grupo teria sofrido um ataque criminoso. 
Publicidade
Levantamento feito pela plataforma Fogo Cruzado aponta que pelo menos 24 casos de ataques criminosos deixaram três ou mais pessoas mortas em 2020. Dados da plataforma mostram que 92 pessoas foram mortas na mesma circunstância, este ano.