Carlos Alberto de Nóbrega - Reprodução
Carlos Alberto de NóbregaReprodução
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador do SBT, usou o programa do amigo Ronnie Von, na TV Gazeta, para dar um duro recado, ao vivo, ao filho, Marcelo de Nóbrega, de 54 anos: “Se eu souber que você fumou um cigarro eu tiro da Praça (A Praça é Nossa, programa que conduz). Cigarro é um veneno. As pessoas não acreditam”.

Diretor do humorístico do SBT, Marcelo sobreviveu a oito paradas cardíacas no dia 7 de março, após sentir fortes dores no peito. Habituado a fumar até dois maços de cigarro por dia, ele foi atendido no Hospital Totalcor, em Alphaville, na Grande São Paulo.

“Ele é tão louco que sobreviveu. Foi o maior susto da minha vida. Eu pirei e ainda estou pirado”, confessou Carlos Alberto, que contou ter recebido a notícia por telefone no Chile, onde estava a passeio. Marcelo de Nóbrega, segundo o pai, já está melhor e volta, aos poucos, ao trabalho.

O desabafo do apresentador - no programa desta segunda-feira -, especialmente no que diz respeito a ameaça de deixar o filho sem emprego, caso volte ao vício, levantou discussões entre especialistas, sobre a questão dos “limites do zelo” em relação a vícios, como o tabagismo.

Para a psicóloga Ana Café, idealizadora do Núcleo Integrado e especializada na prevenção e tratamento da Dependência Química, do Rio de Janeiro, o episódio, desperta a necessidade do entendimento do uso de substâncias (lícitas ou ilícitas) como uma doença e não como um comportamento desviado ou desviante. Ela lembra que todas elas atuam no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora, promovendo prejuízos e perigos à saúde que devem ser sempre considerados.

“É interessante ver um pai se posicionar desta forma. Na maioria das vezes, vejo que os familiares têm muita dificuldade e inabilidade de serem assertivos acerca do uso disfuncional de substâncias, seja tabaco, álcool ou drogas ilícitas. Em muitos casos, o uso causa tanta preocupação e mal-estar, que acaba gerando emoções tóxicas, um adoecimento emocional que dentro do trato das dependências e das disfunções familiares dá-se o nome de codependência”, aleta.

O termo, segundo ela, tem origem no adoecimento dos familiares de usuários de substâncias, mas o codependente é uma pessoa que se permite viver relações disfuncionais e acaba adoecendo na tentativa de controlar o outro (e neste contexto família se caracteriza por laços de afeto e não apenas de sangue).

“São pessoas que acabam se desfocando das suas metas e dos seus objetivos no sentido de cuidar de alguém, de tentar controlar, de não entender a premissa de que cada um é responsável pelas consequências de suas escolhas, como diz a expressão popular ´Cada macaco no seu galho`. Ou seja, podemos incentivar e oferecer suporte a pessoas queridas, mas nunca viver e escolher por elas”. diz.

Ainda conforme Ana, um limite é saudável “quando estimula a reflexão e não movido pela raiva”. “Quando a pessoa consegue dá-lo com a consciência de que está fazendo o melhor para quem ama, desejando preservá-lo. E não com a tentativa de controle, do tipo: `agora ele vai parar, agora eu vou fazê-lo mudar´, exemplifica.

Acompanhamento psicológico

Especialistas advertem também sobre a importância de o codependente se conscientize e faça algum tipo de acompanhamento psicológico (seja terapia em grupo, terapia familiar ou terapia individual), pois trata-se de uma situação que envolve grande sofrimento e muito difícil de ser resolvida sem ajuda, já que faz parte do cenário cuidar do outro e não de si mesmo. Procurar compreender como o cérebro se comporta diante dos estímulos de prazer e aprender como lidamos com isso nos oferece a capacidade de ter atitudes mais inteligentes, funcionais e humanas para lidar com uma questão que se apresenta há diversas gerações, completamente inserida no sentido da existência pessoal e social.

“Entender o comportamento diante do tabaco, álcool e outras drogas como proveniente de um distúrbio da vontade é desafiador. A família faz parte desse caldeirão junto com o usuário. Ele se sente `todo errado´ e culpado em paralelo à família que se questiona: o que posso fazer pra acabar com isso tudo?", explica outra psicóloga, Gisele Aleluia, especialista em terapia familiar sistêmica.

Na próxima segunda-feira, o Núcleo Integrado do Recreio dos Bandeirantes iniciará um grupo familiar aberto a qualquer pessoa que esteja interessada em participar. Não será cobrada taxa de participação e seu sustento se dará de forma livre e colaborativa. Mais informações pelo telefone 21-3553-6442.

Você pode gostar
Comentários