Por Fernando Mansur

Há quanto tempo não ouço a palavra 'vovó', com aquela conotação de pessoa sábia, cheia de alegria, disposição, sempre pronta a colaborar e a respeitar a inteligência dos netos. Assim como Cora Coralina - que nem sei se foi vovó, mas que teve todos os atributos para tal. Ela dizia:

"Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não. Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes."

Pensando nela, me ocorreram algumas frases. Assim como com apenas sete ou 12 notas musicais criam-se infinitas melodias, os verdadeiros escritores, com as poucas letras do alfabeto, modelam palavras e oferecem-nos sinfonias, levantando as pontas do véu de Ísis, como o pintor recria as sete cores do arco-íris.

O que o intelecto sozinho não consegue realizar, intuição e arte possibilitam. Criatividade, a luz eterna do Logos em movimento, inspiração para a vida, mantras que se recitam com o coração.

Dentro de nós há sinais apontando a reta direção do Ser, ainda que por caminhos tortuosos. Mas no fim, sobreviveremos, pois a imortalidade faz parte do legado daqueles que, como Cora, acreditam nos deuses do amor e da cura, que pedem silêncio, para poderem nos ouvir melhor, como nossos inesquecíveis avós, a voz da sabedoria.

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