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Viralizou, nas redes sociais, a imagem de três senhoras, idosas e com ar de certa simpatia, tentando justificar o porquê do apoio bolsonarista a Israel. O vídeo é humilhante. Constrangedor. As mulheres não conseguem falar coisa com coisa. Elas são o retrato do que representa o bolsonarismo: não tem nenhuma conexão com a realidade. Em regra, as opiniões deles são de fazer corar qualquer ser pensante. É interessante notar que eles criaram um universo paralelo no qual a verdade não tem quase nenhum significado. O que existe, nesse cenário construído, é o mundo paralelo criado. As opiniões daquelas cidadãs são de uma vulgaridade acachapante. Delirante. Dá pena.
Esse é um bom momento para pensar o país. Enquanto, na Avenida Paulista, um bando de aloprados insiste em mostrar uma extrema insatisfação com a Democracia estabelecida, outro grupo, no Rio de Janeiro, resolve celebrar os 70 anos da Regina Casé nas asas da alegria, do amor e da irreverência. Em plena quadra da Mangueira. E, assim, o Brasil mostra a que veio. É muito lindo ver todas as nossas alegrias incontidas vindo à tona com força, charme e cadência. A comemoração foi de encher os corações. Torná-los
chagásicos. Enormes.
Foi muito bom saber que era possível esquecer aquele bando de ineptos na Avenida Paulista a gritar por anistia, como que assumindo os delitos cometidos contra o Estado democrático de direito. Incoerentes e vulgares. Seria ridículo, não fosse trágico. O ato todo foi um reconhecimento de responsabilidade criminal com uma tentativa de pedir perdão e suplicar para que sejam esquecidos os inúmeros fatos que, declaradamente, têm que ser emoldurados como crimes contra a Democracia.
Não podemos esquecer que, se o golpe tivesse sido bem sucedido, certamente, eles não teriam nenhuma comiseração. Até mesmo na minuta de golpe, agora identificada como verdadeira, tinha a previsão expressa da prisão de ministros do Supremo. Não há como ter dúvida: nós, democratas, sofreríamos o peso da força cruel da ultradireita ensandecida e bárbara.
É interessante observar a pesquisa feita pela USP com a massa bolsonarista que foi à Avenida Paulista pedir anistia para os criminosos do 8 de janeiro e bradar contra o regime democrático. Eram quase 180 mil representantes da ultradireita. O resultado revelou um grupo que apoiou o golpe e a tentativa de sufocar o Estado democrático de direito com graves deficiências cognitivas, formação autoritária de extrema direita e com visão distorcida da realidade. É composto, majoritariamente, por homens brancos, com certa idade, bem financeiramente e que se orgulham de serem brancos conservadores e de extrema direita. Vivem numa bolha criada por eles mesmos e se alimentam das mentiras espalhadas pelos responsáveis por manter esse mundo paralelo.
Para 88% dos manifestantes, Bolsonaro ganhou as eleições! Eles vivem em um universo colateral e sem conexão com a realidade. Dos presentes, 40% reclamaram que o ex-presidente deveria ter efetivamente dado o golpe, seja através de uma GLO, ou com a aplicação do artigo 142 da Constituição. Não sabem direito explicar o sentido, assim como as três senhoras tentando falar sobre Israel, mas defendem, ardorosamente, o golpe e a ruptura com a Democracia. Para 94%, o Brasil vive numa Ditadura. Ou seja, há um grande déficit de cognição da realidade e eles acreditam nas fake news criadas ao longo do tempo e se apegam ao trabalho de desinformação capitaneado pelos bolsonaristas.
A única alternativa é cumprir a Constituição e as leis. Responsabilizar esse bando de golpistas pelos gravíssimos delitos praticados contra a Democracia. Imputar a cada um as infrações que praticaram. Ora, dizer que não cometeram crimes, mas reivindicar anistia e esquecimento é apenas mais uma contradição desses aloprados! Vamos garantir a eles todos os direitos para o exercício da ampla defesa. Porém, não vamos permitir que saiam impunes para tramar, em seguida e outra vez, contra a liberdade e contra o Estado democrático de direito.
O país tem que se respeitar e, para tanto, não podemos agir como eles e fingir que não houve uma forte tentativa de romper a institucionalidade. Basta fazer uma reflexão acerca do modo como atuariam se tivessem vencido. 
Reporto-me a Bernado Soares, no Livro do Desassossego: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também”.