Por O Dia

'Alô, alô, aviadores que cruzam os céus do Brasil" - frase-refrão-abertura das apresentações na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, do cantor Jorge Veiga, nos anos 50. Época que a aviação ainda não tinha recursos técnicos de navegação aérea e que os pilotos se guiavam pelas ondas das emissoras de rádios espalhadas pelo país afora. Em 1957, eu não entendia muito bem o motivo da chamada do Jorge. Mas, pouco meses depois, a bordo de um moderno quadrimotor DC 7, da Panair do Brasil - em vôo para a Europa ( eu desembarquei no Recife, em única escala brasileira) - o pessoal da tripulação esclareceu o chamado do cantor. As viagens podiam ser mais seguras, em matéria de rotas, seguindo as ondas das rádios. a frase completa do artista era: "Alô, alô, aviadores que cruzam os céus do Brasil. Aqui fala Jorge Veiga pela Rádio Nacional. Queiram dar os seus prefixos para a guia de nossas aeronaves".

Daí, os prefixos das estações ajudavam os pilotos a manterem as rotas certinhas. Entenderam? Fui reencontrar alguns dos ex-funcionários da empresa, já desmantelada pela ditadura, em 1967, quando trabalhei no Detran do Rio. Vários ex-Panair foram admitidos naquele órgão da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

Mas, foi pensando nesses anos, que lembrei em um momento da minha curta vida. Um amigo, o Ney, ferroviário, hoje aposentado, irmão de uma namoradinha do Engenho de Dentro, me convenceu a desfilar em uma escola de samba. O que o amor não faz... Desfilei, pela primeira - e última vez - na Escola de Samba Arranco. Corria o ano de 1957. Saí de índio, numa ala que não lembro, em um enredo que também não consigo lembrar. Ao meu lado, isso eu lembro, sambando no asfalto, uma mulata que chamava a atenção de meio mundo. Eu, muito branco apesar das tintas que me deixavam vermelho, nem era notado. Que bom. Por outro lado, no ano seguinte, fui parar em retiro espiritual, em pleno Carnaval... Coisa da vida.

Mas, amigos, fico eu contando coisas do passado, lembrando de amigas e amigos e personagens distantes. Pois bem, no dia 7 de julho de 57, Pelé fez um dos gols contra a Argentina no Maracanã. Foi durante a Copa Rocca. O jogador tinha, na ocasião, 16 anos. Eita, Pelé é mais velho do que eu! E, por falar em Maracanã, alguém ainda lembra do Ghiggia? Alcides Edgardo Ghiggia Pereyra, o uruguaio que fez o torcedor brasileiro chorar em 1950, no templo sagrado do Maracanã. Perdemos a Copa do Mundo com o gol desse cidadão. E, anos e anos mais tarde, Ghiggia ainda tripudiou quando declarou, sorridente, em entrevista a jornais e emissoras de TV que "o Maracanã ficou mudo em três ocasiões: com o show do Sinatra, a visita do Papa e o meu gol"... Eu fiquei fulo da vida com a declaração do falecido - ele morreu em 16 de julho de 2015, em Montevidéu, Uruguai - no aniversário dos 65 anos daquela terrível partida no "Maracanaço".

Esse negócio de falar dos mais velhos, ou dos tão velhos, é terrível. Uns não gostam que os chamem de velhos. Outros, não ligam. Mas o pior de tudo é você ficar isolado em meio a uma multidão. Eu, por exemplo, em plena redação do jornal O DIA, vez por outra tenho uma dúvida ou mesmo quero lembrar de alguém ou de um fato. Olho em volta, procuro companheiros e amigos para comentar um assunto. Pronto, tá aí a encrenca. Só tem jovens. "Alguém sabe de ...? "Ih, nem respondem. Pior é ver os amigos de infância, colegas de escolas, ou de trabalho, irem morrendo pelo caminho. Ou se aposentarem e sumirem na vida. Sou obrigado a discutir assuntos do momento. Ai de mim tentar falar do passado. "Isso é coisa de velho", dizem alguns. Mas não sabem que, por exemplo, que os 18 do Forte na verdade foram 21, que na desaparecida Ilha de Bom Jesus, em frente ao Caju, funcionava um asilo dos Inválidos da Pátria, heróis que lutaram contra o Paraguai? A ilha foi absorvida pelo Fundão. Conheceram o Barão de Itararé? Ou mesmo que o América Futebol Clube já foi campeão carioca, assim como o Bangu e que Jânio Quadros foi presidente da República por sete meses, os Arcos da Lapa foi construído para ser um aqueduto e não para o bondinho de Santa Teresa transitar? Ah, tem no Google...

 

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