Júlio Furtado é professor e escritorLindsay Romariz / divulgação

Parece que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) pôs um fim na discussão sem sentido que coloca a família como única responsável pela educação e a escola como instituição unicamente instrutora. As famigeradas postagens nas mídias sociais denunciavam essa absurda divisão de tarefas, através da famosa frase: "Família educa, escola ensina!".
Embora a função educadora da escola seja instituída constitucionalmente, a BNCC veio reforçar, claramente, esse papel, ao instituir a obrigatoriedade da escola desenvolver competências socioemocionais. Vamos combinar, então, que família e escola educam e ensinam de forma complementar e harmônica (pelo menos teoricamente). A reflexão agora é como que a escola deve colocar em prática esse desenvolvimento.
A vocação instrucionista da escola já deu conta do surgimento de coleções de livros didáticos sobre o tema que, em algumas escolas, estão sendo trabalhados pelos próprios professores da turma (na Educação Infantil e do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental) ou por professores específicos (no caso das turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio), como se estivéssemos falando de mais um conteúdo a ser ensinado na escola. Diante disso, duas questões não querem calar: o quanto os professores
estão preparados para promover o desenvolvimento de competências socioemocionais em seus alunos? Nas turmas em que existem professores específicos para esse fim, quem são eles?
Desenvolver competências socioemocionais exige que quem as desenvolve as tenha, minimamente, desenvolvidas em si mesmo. A formação de professores para esse fim deve focar, primeiramente, o autoconhecimento no sentido de facilitar a autoconsciência docente. Em segundo lugar, a formação deve favorecer o desenvolvimento das competências mais frágeis e, por fim, o foco deve convergir para a instrumentalização metodológica do professor para gerir tal desenvolvimento junto a seus alunos.
Não há dúvidas de que na escola não aprendemos apenas conteúdos de História, Geografia, Matemática ou Ciências. É lá, também, que adquirimos importantes aspectos de nossa personalidade através do desenvolvimento de competências socioemocionais. É aí que ocorre o processo que faz a escola cumprir seu papel mais nobre: promover o processo de humanização das pessoas, contribuindo para a construção de um mundo menos líquido no qual o ser humano seja, de fato, o que mais importa.
Júlio Furtado
Professor e escritor