Segundo as investigações, objetivo era matar todos no carro de Marielle para dificultar apuraçãoArquivo / Agência O Dia

Rio - Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, o delegado Rivaldo Barbosa e o policial militar Ronald Paulo de Alves Pereira, conhecido como major Ronald, denunciados pelo homicídio da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, também são acusados pela tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, que estava no veículo da parlamentar no dia de seu assassinato, em março de 2018. Segundo a denúncia, a jornalista também era alvo dos mandantes do crime.
De acordo com a investigação, o planejamento do crime era matar todos que estavam no carro em busca de dificultar a apuração do caso. Fernanda só não teria morrido porque o corpo de Marielle a protegeu dos tiros.
Além dos crimes citados, os irmãos Brazão e o ex-assessor de Domingos, Robson Calixto da Fonseca, preso nesta quinta-feira (9), foram denunciados por organização criminosa. As investigações destacaram que eles Domingos e Chiquinho formaram alianças com diferentes grupos de milícia que se encontram em atividade na cidade do Rio desde o início dos anos 2000, principalmente nas regiões de Jacarepaguá, Rio das Pedras e Oswaldo Cruz.
A denúncia descreveu que os irmãos constituíram sociedades empresariais com milicianos e mantiveram pessoas de sua confiança em cargos em comissão na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o objetivo da ligação dos irmãos com a milícia era criar redutos eleitorais nas áreas por eles controladas e explorar atividades imobiliárias ilegalmente, por meio de práticas de "grilagem" e com o uso do poder informal do grupo paramilitar.
Na denúncia, o vice-procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand, pediu ainda indenização aos familiares das vítimas a título de danos morais e materiais sofridos em decorrência dos crimes.
O documento foi entregue nesta terça-feira (7) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A PGR afirmou na denúncia que os irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa Barbosa devem ser processados e condenados pelo crime. Os três foram apontados como mandantes do assassinato.
Motivação
As investigações descobriram que a atuação política da vereadora Marielle Franco, ainda na qualidade de assessora de deputado estadual do Psol, foi de encontro aos anseios dos irmãos Brazão. As divergências sobre as políticas urbanísticas e habitacionais teriam sido o estopim para determinar sua execução.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o interesse na execução de Marielle está ligado à exploração imobiliária em áreas dominadas pela milícia. Em depoimento, o ex-policial militar Ronnie Lessa, preso por ser o executor do crime, teria informado que Marielle virou alvo depois de defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
Prisões
Domingos, Chiquinho e Rivaldo Barbosa foram presos no dia 24 de março deste ano. Investigações da Polícia Federal apontaram que os dois primeiros foram os mandantes do crime. Já o delegado, que assumiu o cargo de chefe de Polícia Civil um dia antes do assassinato, teria tentado obstruir as investigações e "planejado meticulosamente" o crime, evitando que o atentado fosse realizado no trajeto de chegada ou saída da Câmara dos Vereadores do Rio para evitar possíveis pressões à Polícia Civil caso o crime tivesse conotação política.
Nesta quinta-feira (9), Robson Calixto da Fonseca, ex-assessor de Domingos Brazão, foi preso por agentes da Polícia Federal. Conhecido como "Peixe", ele chegou à sede da Polícia Federal, na Praça Mauá, por volta das 10h. O homem é suspeito acusado de monitorar e participar do planejamento da execução de Marielle.
Além de Robson, também foi cumprido um mandado de prisão, nesta quinta, contra o PM Ronald Paulo Alves Pereira, conhecido como major Ronald. Apontado como o ex-chefe da milícia da Muzema, na Zona Oeste, ele já cumpria pena em um presídio federal por homicídio e ocultação de cadáver. Ronald teria a mesma função de Robson no assassinato.