Nós do Morro  - fotos Divulgação/Ariel Martini
Nós do Morro fotos Divulgação/Ariel Martini
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Foi uma consagração para a música produzida nas comunidades do Rio de Janeiro. O Palco Favela do Rock In Rio levou para a Cidade do Rock não apenas o funk, mas também o pop, a MPB e o rap - e outros estilos - feitos nas favelas cariocas. Muita gente nem sequer deve ter imaginado que um dia veria nomes como MC Carol e Cidinho & Doca no Rock In Rio. E foi a vez deles passarem pelo festival, numa edição que incluiu também shows da Funk Orquestra e de Anitta.

"Do fundo do meu coração, cantar no Rock In Rio pra mim, foi a mesma sensação de ser um jogador de futebol, que estreia pela primeira vez no Maracanã, no Flamengo. Foi mágico. Depois que eu entrei em campo, senti uma coisa que nunca tinha sentido na vida. Sabe o nascimento de um filho? Foi quase a mesma coisa", diz um emocionado Cidinho, que ainda cantou também no palco Sunset, no sábado, junto com a Orquestra Funk, Ludmilla, Buchecha e Fernanda Abreu.

O parceiro Doca, também presente nos dois palcos, diz que o sábado do Rock In Rio foi o dia em que o mundo viu o funk. "Foi tudo novo para a gente, até porque foi a primeira vez em que tocamos com banda e dançarinos. Foi a primeira vez até em que ensaiamos!", brinca. "Imagina, éramos dois pretinhos da da Cidade de Deus, cantávamos funk, éramos discriminados, que passaram por várias situações ruins e estamos no maior festival do mundo", complementa.

Cidinho agora está louco para ir para o Rock In Rio Lisboa, em 2021. "Vamos pagar a passagem de todo mundo aí do O DIA pra lá!", brinca. "Só que não, né?"

Quem também está muito feliz de ter cantado no Espaço Favela é MC Carol, que se apresentou no primeiro dia do evento ao lado de Heavy Baile e Tati Quebra-Barraco. "Quando comecei a cantar eu não imaginava que iria tão longe, sabe? Engraçado como as coisas são: num dia você está sentada, sem rumo, pensando em nada e no outro, você está no palco do Rock in Rio!", conta. "Lógico que a gente canta besteira, coisas para dançar, mas o funk também é um grito, um chamado por socorro. O funk das comunidades começou dessa forma. Eu lembro de ouvir Cidinho e Doca, criança ainda e aquilo me emocionar".

Circo na favela

Com números quase circenses, o grupo Nós do Morro se apresentou todos os dias do festival no Espaço Favela, três vezes por dia. Guti Fraga, um dos diretores, diz que o palco foi o reconhecimento da enorme quantidade de talentos que existe nas comunidades.

"Lá no Vidigal, nós produzimos semanalmente o Campinho Show, uma espécie de programa de auditório na favela. Virou uma festa e nela logo vimos a grande quantidade de gente talentosa que está por todo lugar da nossa favela", conta. "E isso se repete em todas as favelas. Existe uma cultura nossa, que é nossa identidade. O espaço no Rock in Rio foi conquistado e não dado de graça. Vejo como consequência natural de tudo isso o fato de estarmos num grande festival. Afinal temos 33 anos de Nós do Morro".

Na abertura do Rock In Rio, um vídeo de um ensaio do espetáculo do Nós do Morro viralizou por conta do som de helicópteros na apresentação. A sonoplastia logo foi relacionada com as operações da polícia nas comunidades. Os diretores do espetáculo, no entanto, negam que esta tenha sido a intenção.

"Não entendi esses comentários que espalharam. Muita gente falou do que não viu. Havia o som de helicóptero como trilha para uma bela dança de uma bailarina com um artista cadeirante. Não entendo qual o problema disso. Nem dá pra dizer que entenderam errado, porque não viram. Como a coisa não foi compreendida tiramos o som", lamentou Guti.

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