Leandro Ventura é cirurgião plásticoDivulgação

A Inteligência Artificial, cada vez mais, vem se tornando parte de nós e do nosso dia a dia. Seja na indicação da melhor rota de trânsito, na escolha do pacote de viagem mais barato, em serviços de atendimento ao cliente e também na área de saúde.

Nos consultórios de cirurgia plástica, a IA já é uma realidade para alguns profissionais, que comemoram terem mais dados à disposição, em uma menor quantidade de tempo, e ainda prometem uma certa previsibilidade de resultados. Mas acredito ser necessário ter muita cautela com o emprego dessa tecnologia.

A utilização da inteligência artificial vem sim para acrescentar com o nosso trabalho. Acho interessante o uso que podemos fazer dela, principalmente na parte de levantamento de dados. Na Cirurgia Plástica, e na Medicina como um todo, existe uma parcela de imprevisibilidade. Sempre devemos ter a responsabilidade de melhorar o paciente, mas as referências criadas por simulações não são fidedignas ou 100% garantidas, o que pode gerar frustrações e dor de cabeça.

Pode até ser interessante a proposta de se criar filtros, para que possamos entender a intenção do paciente e perceber um direcionamento no que ele deseja que o cirurgião faça. E, principalmente, se o que ele deseja é possível, porque muitas vezes os filtros podem criar dismorfias, levando as pessoas a acreditarem em mudanças de aparência inalcançáveis.

O certo a se mostrar, em qualquer tipo de simulação, não é o que o paciente quer ver, mas até que ponto o profissional consegue realizar modificações que não prejudiquem o equilíbrio da face e nem o bem-estar do cliente. Por isso, sou um grande defensor de que a tecnologia não sobreponha o lado humano do médico.

Nas consultas, ouço muito o que incomoda o paciente e foco nas resoluções. Sou contra entregar o mesmo nariz a todos os pacientes ou o famoso nariz com cara de operado.

Sou favorável em usarmos a grande capacidade de analisar informações da Inteligência Artificial, cautelosamente, como aliada na tomada de decisão e não como uma fábrica de ilusões ou de produção de fôrmas prontas.

As máquinas não substituem a experiência e a sensibilidade do especialista, pois, a particularidade de cada corpo requer o olhar atento do cirurgião, para avaliar as opções e recomendar o melhor para cada situação específica. Nossa visão estética é muito importante em cada cirurgia que realizamos. E é também a maior vantagem com que o paciente pode contar.
* Leandro Ventura é cirurgião plástico