Trabalho realizado pela fotógrafa Carol Coelho - Carol Coelho/Divulgação
Trabalho realizado pela fotógrafa Carol CoelhoCarol Coelho/Divulgação
Por O Dia
Joyce Ribeiro surpreendeu ao aparecer na estreia do 'Jornal da Tarde', da TV Cultura, com o novo visual. A jornalista, que usava o cabelo alisado há 22 anos, conversou com a coluna sobre a mudança, a mulher preta e a vitória de Thelma no 'BBB'. Confira!
O que significa para você, mulher preta, referência para muitas outras, aparecer com o cabelo crespo depois de 22 anos usando ele alisado ou escovado?
Está sendo transformador e representa um contato ainda mais genuíno com a minha essência, um reencontro muito aguardado. Foi um passo que eu planejava há tempos, eu queria isso e agora senti que era o melhor momento. A minha vida, a vida no planeta, tem mudado rapidamente, de um jeito muito mais acelerado do que imaginamos que poderíamos suportar, aproveitei para fazer o que eu queria. Tive muitos problemas com cabelo enfraquecido e queda, queria dar um tempo, por isso iniciei agora um processo de transição que será longo, mas o primeiro passo foi dado, da maneira que achei melhor. São várias as técnicas que podem nos ajudar a passar pelas fases da transição para quem não quer fazer o corte radical, raspar, ou tirar alongamento de uma vez até chegar ao crespíssimo natural.
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Você tem filhas.Como foi para elas essa mudança?
Elas gostaram muito, ficaram felizes, gritaram quando me viram... a decisão foi muito impulsionada também pela imagem que eu queria passar para as minhas filhas. Elas nunca quiseram mudar os cabelos delas, amam o crespo, o natural, mas sei que poderiam ter vontade de usar um cabelo mais parecido com o que eu usava, quando forem mais velhas, então sei que esta será uma referência positiva dentro de casa também.
Acredita que a TV impõe um padrão visual trazido de fora?
Vejo mais problema na valorização de uma estética completamente eurocentrada na TV brasileira. A questão não está no cabelo liso ou crespo, está na idealização e valorização da beleza branca como única, como padrão e como referência a ser seguida. A minha negritude nunca esteve atrelada a um cabelo liso ou crespo... e nunca estará, sou uma mulher preta consciente e orgulhosa da minha origem, mas certamente tenho consciência de que usar cabelo crespo, na TV, no Brasil, representa muito, é uma referência para muitas meninas em formação, que se sentem pressionadas a seguir padrões, alisando sem querer e não porque escolheram aquele visual.
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Como você vê a participação de pretos na TV atualmente? Há representatividade para um país onde a população preta representa 54% do seu total?
Aos poucos a mudança vai acontecendo, mas ainda estamos longe do ideal. O mundo está se transformando sim, tenho esperança nas crianças de hoje e me esforço para a acreditar em adultos capazes de acompanhar a evolução do planeta, no sentido de enxergar que todos os seres humanos são iguais e cheios de potencialidades que merecem oportunidades para se desenvolver... uma novidade para muitos. O Brasil da minha adolescência, em relação a representação e presença preta na TV, felizmente é bem diferente do que eu vejo hoje.
Como mulher preta, você se sentiu representada ao ver Thelminha vencer o BBB?
Sim, ver a participante de um programa popular como o 'BBB', com o perfil da Thelma, mulher, preta, médica, ser escolhida pelo voto popular, no Brasil, significa muito. Demonstra um avanço do nosso povo, sinaliza aumento de consciência, da importância da oportunidade e da representatividade. Fiquei muito feliz com a vitória dela, há poucos anos uma mulher como ela, como nós, não participaria do programa, já que fomos invisibilizadas, isoladas e excluídas. E ela venceu.
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Os casos de racismo ainda são frequentes nas redes sociais, qual você acha que é o caminho para começarmos a mudar isso?
O caminho é a denúncia. Criminosos usam o computador como armaduras e se sentem protegidos, acham que nada vai acontecer, mas não é assim. Internet e redes sociais não são terra sem lei e apesar de demorar dá sim para localizar essas pessoas. Temos ferramentas de investigação potentes e eficazes que devem ser usadas sempre, o nosso papel é denunciar.
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Qual a notícia que você gostaria de dar e ainda não deu?
Gostaria de dar tantas notícias. Principalmente relacionadas a justiça social, distribuição justa de renda no Brasil. Seria lindo dizer que o nosso país não está no topo dos mais violentos para as mulheres, entre os que matam mais jovens negros, que a população carcerária diminuiu, que a educação que realmente ensina melhorou drasticamente no país; que os talentos que exportamos foram apoiados aqui no Brasil e estão nos salvando nas mais diversas áreas, que estamos aprendendo a conviver e a preservar as nossas áreas naturais, que estamos usando as altas tecnologias sempre a nosso favor. A lista é imensa, mas eu sou otimista, espero ver boa parte dela realizada e contribuir de alguma forma pra isso.
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